Por felipe.martins, felipe.martins
Rio - Decidido, resolvo beber uma taça na Ouvidor, a Rua de Machado de Assis e da Toca do Baiacu, bar de inesperados gastronômicos. Pedestres gordos­laranjas, táxis com seus aplicativos dos Apitos Uivantes, o melhor percurso é de pés, como diz meu sogro, José.
A cidade parece título do imortal Zuenir, partida. Como não é ruim feito o vaso do provérbio, um dia quebra. Penso que as cinzas olímpicas sobre os restos desse verão de infravermelhos hão de restaurar o meu humor. De volta, Metrô lotado, biquínis e gravatas, ternos na saída de praia, escuto a voz do motorneiro guiando na direção Zona Sul: Próxima Estação, Segunda Divisão. O vagão assardinhado reage em peso. Peso líquido, todos derretem.A cabeça delira.
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Imagens de um festival em preto e branco, Arrastão do Arpoador, Travessia de BRTs, Sabiás Mutantes na extinta Mata Atlântica dos jobins­buarquianos. Sem lenço, sem documento, pingentes caem feito viadutos nos ramais de Deodoro e Leopoldina. Sebastião, flechado na saída da faculdade, sangra a calçada de cruzes, onde nada é cenário, sem estrelas, um filme de terror, repetido na sessão noturna. 450 anos de Morro de Cão, o Rio começa a engolir que, às vezes, da natureza onde nada se cria, o tudo que se transforma pode surpreender negativamente.
Existe uma tristeza na paisagem do Dois Irmãos. O pôr do sol se apressa sobre a tensa areia de Ipanema. Nas ondas do calçadão de Copacabana, pivetes surfam e evoluem jacarés, cobras e lagartos. Aos ilesos, o cocô da madame na carioca havaiana estampada. Tudo a céu aberto, aos olhos do Cristo Redentor. Dele e dos turistas que, sobrevivendo ao escambo do Cosme Velho, perdem outros olhos da cara pra alcançar o topo do Corcovado.
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Balas perdidas cruzam os nossos caminhos feito abelhas na colmeia invadida. As câmeras com semblantes assustados desfocam o noticiário local. E bola pro mato que o jogo é de campeonato.
Rio, minha Cidade Maravilhosa, a hora é essa. Cercar a milhar dos nosso sonhos, os seis números do nosso destino, faz um duque na mesma linha e um pouco mais de sorte nesse coração rifado. Em tempo, meu amigo João Pimentel, obrigado por lembrar os versos de ‘Saudades da Guanabara’ em sua crônica de terça­feira, dia do Padroeiro.
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Refrões de desejos.