Por adriano.araujo, adriano.araujo
Rio - Balas perdidas não são fatalidades. São sintomas, quer do recrudescimento da atividade criminosa, quer do despreparo policial, que levam a um grave problema: o derrame de armas e munição. Balas que entram com inaceitável facilidade no estado e são disparadas com frequência absurda e sem critério são um perigo numa cidade lotada e espremida como o Rio.
Até a meia-noite de sexta-feira, contavam-se sete vítimas de bala perdida em uma semana, sendo três delas crianças. Duas morreram: Larissa e Asafe. Brincavam quando foram atingidas. O caso mais recente, até a conclusão desta página, foi do jovem alvejado enquanto assistia a um torneio de skate no Parque Madureira. Fechava-se a sinistra média de um caso de vítima do ‘acaso’ por dia.
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A movimentação de bandidos, sejam traficantes ou milicianos, é uma das fontes de balas perdidas. Arma-se fortemente o bando independentemente da ação: uma invasão a um morro, um arrastão, um assalto a pedestre, uma saidinha de banco.
O destrambelhamento da polícia também contribui para a chuva de projéteis: no lugar da inteligência e da ação cirúrgica, saraivada de balas, como foi no caso da jovem Haíssa. Recrutas, não sem razão, reclamam do treinamento de tiro. Em entrevista ao DIA domingo passado, o comandante da PM, Alberto Pinheiro Neto, afirmou rever os procedimentos de formação e cogitou desarmar parte da tropa, após uma “reavaliação”.
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É verdade que uma polícia cidadã não precisa de armas. O Estado se impõe muito mais pela cidadania e pelas oportunidades que proporciona do que pela força. Mas que não se acredite reduzir as estatísticas de bala perdida cortando a letalidade das forças de segurança. É preciso, sim, estancar o vazadouro de fuzis, metralhadoras e pistolas, consequência do livre comércio de drogas. Cedo ou tarde, o país terá de enfrentar essas questões, pois até agora só se vê um enxugamento de gelo e sangue.