Por adriano.araujo, adriano.araujo
Rio - Uma das reportagens publicadas sobre o menino Patrick Ferreira de Queiroz, de 11 anos, morto por um PM numa favela dos Lins, mostra que a tragédia é ainda maior. O garoto perdeu a mãe aos 4 anos, tinha dificuldade de aprendizado, era analfabeto e abandonara a escola no segundo semestre de 2014. Não gostava de estudar, diagnosticou seu pai, Daniel.
Patrick costumava brincar perto da boca de fumo e acabou morto a tiros. O policial diz que atirou em legítima defesa, alegou que o menino integrava quadrilha que vende drogas por lá. O pai nega esta versão, mas admitiu que o filho vivia na rua e que era “muito estressado”.
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Vale reler: 11 anos, analfabeto, fora da escola, vivia na rua, brincava perto da boca de fumo. Sua morte, um possível assassinato, concluiu um ciclo comum entre nós, incompatível com um país agora chamado de “pátria educadora”. A saga de Patrick deveria ser suficiente para que o lema fosse posto de castigo. Não dá para chamar de educador um país que considera aceitável o abandono da escola por meninos de 11 anos, que se acostumou a achar normal — mesmo que este não tenha sido o caso de Patrick — que crianças andem armadas. Que escola é essa que não consegue atrair e manter crianças como Patrick? Que sistema educacional é esse que dá de ombros para a fuga de um aluno, que não vai atrás dele, que não leva o caso à Secretaria de Educação, ao prefeito, ao Conselho Tutelar, à Justiça?
A favela em que o garoto morava foi ocupada pela PM há 15 meses. Desde outubro de 2013 que, apesar de diversos problemas, está sob o necessário controle do estado. Mas não dá para admitir que o Estado — aqui, com maiúscula — se preocupe apenas em saber se crianças, jovens e adultos estão armados, se traficam drogas. O Estado não pode se limitar a controlar, a vigiar. Tem que ter também olhos para meninos como Patrick — há muitos outros como ele. Seria preciso saber se ele estava indo à escola, se tinha sido vacinado, se havia comida em sua casa. O menino era mesmo estressado? Chegou a ser examinado por um profissional de saúde?
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Daniel, o pai, também foi omisso em relação ao filho, mas não seria justo jogar sobre ele — pobre, auxiliar de pedreiro — toda a culpa pelo abandono. Crianças também pertencem à sociedade em que nasceram e são criadas, todos temos alguma responsabilidade sobre elas. É simbólico que um menino abandonado pelo Estado tenha sido morto por um agente do próprio Estado — a polícia o encontrou antes da escola que, talvez, sequer o tenha procurado.
E-mail: fernando.molica@odia.com.br
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