Por felipe.martins, felipe.martins
Rio - Violência e desordem descontroladas levam a decisões extremas. Caso recente, como mostrado ontem pelo ?DIA, envolve a Escadaria Selarón, movimentado ponto do ‘turismo alternativo’ da Lapa elevado a cartão-postal obrigatório — e inserido no roteiro de nove entre dez visitantes. Cansados da rotina de venda de drogas e da degradação, incluindo até orgias nos degraus, vizinhos do espaço contrataram seguranças e puseram correntes. Não se chegou a vedar o acesso por completo, mas a prefeitura desaprovou a decisão e interveio, garantindo a livre circulação. A pendenga não terminou, e os moradores garantem que lutarão pela instalação de portões.
Lamenta-se esse retrocesso. O crescente interesse pela escadaria, uma belíssima obra do chileno Jorge Selarón, deveria revitalizar a região, beneficiando o comércio e incentivando a abertura de novas lojas, tudo para amparar o turista. É evidente que o movimento também atrai criminosos, sejam batedores de carteira, golpistas ou traficantes. O relato da vizinhança, porém, assegura que a exceção virou regra, e os ‘indesejáveis’ se tornaram maioria. Daí terem optado pelo controle do acesso.
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Enxerga-se aí um vácuo do poder público, que deveria ter maior zelo por um ponto tão procurado. Não pode ser razoável haver livre comércio de drogas e a desordem imperar. Descaso que afasta o visitante e, num estágio seguinte, segrega a cidade. Algo semelhante ocorre com os arrastões nas praias, que felizmente estão sendo contidos: diante da falta de policiamento e da baderna, muitos cariocas desistiram de tomar banho de mar. Houve até quem defendesse a cobrança de pedágio, como se todos os banhistas além-túnel fossem bandidos.
É um erro segregar como reação à negligência. É ação da cartilha da cidade partida, da intolerância e da preguiça — pois obviamente é a solução mais fácil. Contra tudo isso existe o Estado, com suas forças de segurança e as equipes de ação social. Não pode a Lapa, em específico aquele quarteirão — que ganhou no fim do ano a reformada Sala Cecília Meireles —, isolar-se por causa da violência.
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