Por bferreira

Rio - Eu não sei vocês, mas eu me sinto completamente espionada na internet. E não estou falando das observações e opiniões que compartilho ou apoio ou desaprovo, nas chamadas redes sociais. Estou apavorada com o fato de não poder gostar de um produto ou pesquisar o preço de uma coisa a ser adquirida, sozinha, aqui na minha casa, no meu próprio computador, sem que outras pessoas fiquem sabendo. Ou melhor, sem que todas as lojas virtuais fiquem sabendo e participem ativamente do meu desejo ou da minha curiosidade.

Bastam alguns minutos após meu olhar ou minha pesquisa e eis que surge na minha página do Facebook ou no meu e-mail o produto pesquisado em diferentes lojas e diversas propostas de compra. Isto sem eu ter me cadastrado ou me identificado em lugar algum para tal. E isto vale para tudo: de um modelo de máquina de lavar a um par de tênis, de uma centrífuga a uma bolsa. Não tem nada a ver com perfil de consumidor, com compras feitas nos referidos sites, nem com fidelidade como cliente. Tem a ver com espionagem mesmo. Provavelmente esta estratégia de marketing é considerada legal porque do contrário alguém já teria conseguido parar isto, mas que incomoda, é certo. Parece vizinha fofoqueira de antigamente, sempre espreitando a vida alheia pela fresta da janela. Agora os fofoqueiros de plantão me parecem mais numerosos do que nos tempos da minha infância no interior. Por isso programas tipo ‘Big Brother’ são sucesso. Por isso também todos nós ficamos sabendo das intimidades alheias o tempo todo. Frequentamos festas e casamentos para os quais não somos convidados, vivemos separações e brigas por herança sem nunca termos conhecido os envolvidos.

Estamos todos expostos o tempo todo, flagrados no nosso cotidiano, filmados e divulgados, querendo ou não. Sei que vocês vão dizer que somos todos culpados na medida em que colocamos nossas imagens na rede o tempo todo. E isso também é verdade. Mas estou reclamando da intimidade não exposta que está sendo a cada dia mais invadida. Ontem foi demais, fiz uma pesquisa sobre comida congelada, para comprar preços e sabores e, uma hora depois, uma vendedora de um dos sites que visitei me telefonou para cobrar porque eu não tinha finalizado a compra. E eu, que só tinha feito um levantamento de custo, não vou finalizar nunca mais negócio algum com este site, porque ainda não abri mão do meu direito de escolha e não quero partilhar meus desejos com quem não conheço. Será que sou obrigada a conviver com estes fantasmas espiões que tomam conta da minha vida, dos meus desejos e insistentemente me sugerem comprar o que eu até tenho vontade, mas ainda não contei, oficialmente, nem a mim mesma?

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