Por bferreira

Rio - O Planalto busca a adesão do PMDB para aprovar as medidas provisórias que alteram direitos trabalhistas e previdenciários, de forma a atingir a meta de ajuste fiscal. O segundo maior partido na Câmara considera dar sustentação ao governo Dilma, mas sob algumas condições. A primeira é que os deputados do PT (assim como os demais da base aliada) se comprometam com a aprovação das MPs, o que exigiria um processo de negociação com as bases sindicais de maneira a reduzir conflitos. Ademais, o PMDB quer se assegurar de que o PT seja responsabilizado pela aprovação das medidas, tidas como impopulares. Ainda demandam projeto de crescimento econômico para o país e mais cargos.

Identifica-se aí a preocupação das lideranças peemedebistas em prestar a atenção na antecipação do julgamento dos eleitores não apenas sobre as MPs em foco, mas também da política econômica em curso no Planalto — e se proteger dele — ao negociar a adesão.

Como pano de fundo, tem-se que eleições, por princípio, produzem responsabilidade política. Eleitores estão atentos para punir ou recompensar governantes a partir de resultados. No Brasil, o desempenho da economia tem tido papel fundamental na medida em que a probabilidade de sobreviver no governo aumenta ou diminui de acordo com o desempenho econômico. O Planalto aposta as fichas no ajuste fiscal, no alcance da meta do superávit e na retomada do crescimento. Proteger o poder de compra do brasileiro é um dos principais desafios para manter o PT no governo, particularmente, com o agravamento das crises políticas.

Contudo, sabe-se que o caminho para o sucesso da política econômica do governo Dilma é sinuoso e muito impopular, ao menos agora. Também é conhecido que o eleitor responsabiliza de maneira diferente os partidos da base aliada sobre os resultados do mandatário, punindo ou recompensando o partido que ocupa o Executivo, prioritariamente. O PMDB quer se assegurar de que está na retaguarda, com o PT na linha da frente nessa empreitada. E, paralelamente, para se precaver, prepara a porta de saída. O tratado não é caro: se o PT não cumprir as metas, o PMDB poderá retirar o apoio. Ou seja, deixam claro que a aposta ‘tudo ou nada’ na política econômica do Planalto é do PT, não do PMDB. As negociações de adesão serão muito pontuais, enquanto o governo estiver assim se equilibrando na corda bamba.

Luciana Fernandes Veiga é cientista política e prof. da Unirio

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