Por thiago.antunes

Rio - Não há novidade alguma na análise de que a queda brusca na popularidade da presidenta Dilma Rousseff deveu-se à combinação bombástica entre crise econômica, medidas impopulares e o escândalo de corrupção na Petrobras.

Estranho seria se, diante deste quadro, a presidenta sustentasse a popularidade do seu governo ao fim das eleições de 2014, quando obteve na soma de “ótimo ou bom” 42%, segundo o Instituto Datafolha. A oscilação brusca na avaliação de um governo reeleito não é novidade no Brasil. Fernando Henrique Cardoso obteve apenas 21% de avaliação positiva em fevereiro de 1999, segundo o mesmo Datafolha, inferior ainda à avaliação do governo Dilma, ora com 23%.

Curiosamente, ao fim da eleição de 1998, FHC gozava dos mesmos 42% que Dilma tinha no fim do ano passado. As semelhanças, entretanto, não são absolutas. Há um dado que não foi explorado em nenhuma das análises que vi até agora e que pode ser relevante para a distribuição nos pesos de responsabilidade entre a crise econômica e o escândalo da Petrobras. Em dezembro de 1999 a popularidade de FHC já havia caído para 35%, segundo o próprio Datafolha, enquanto a de Dilma, em dezembro
de 2014, mantinha-se em 42%. 

As causas na queda de popularidade de FHC são de ordem predominantemente econômica: a crise da desvalorização do real. Fora objeto de especulação a partir do fim da eleição, o que explica a primeira queda de popularidade, ainda em dezembro. No início de fevereiro de 1999, 36% do entrevistados consideravam “ruim ou péssimo” o desempenho do governo tucano no combate à crise econômica, enquanto apenas 20% o consideravam “ótimo ou bom”.

Somou-se a isso o sentimento do eleitorado de ter sido enganado: para 61%, FHC enganou os
eleitores ao afirmar que manteria a estabilidade. Entre aqueles que declararam ter votado no presidente, 51% também declararam sentir-se enganados. Passemos, então, à análise do quadro atual. O escândalo da Petrobras foi deflagrado na campanha e aproximou-se perigosamente da imagem de Dilma a poucos dias do segundo turno, através da ‘Veja’.

Dali em diante, a mídia promoveu ampla cobertura de todos os fatos, indícios ou meras suposições sobre o tema. Ao que parece, nada abalou a popularidade do governo. Ou seja, arrisco-me a afirmar que esta queda na popularidade de Dilma tem pouco ou nada a ver com a Petrobras.

São as mesmas razões de ordem econômica somadas às medidas impopulares que contrariam as promessas feitas pela presidenta em campanha. Aos arautos do Apocalipse, peço que se acalmem. Não teremos um novo impeachment, pois esta não é uma crise de legitimidade. É uma crise econômica gerida com um remédio amargo e incompatível ideologicamente com um governo de esquerda.

Marcia Ribeiro Dias é professora da Unirio e pesquisadora do Iuperj/Ucam

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