Por felipe.martins
A ilustração acima é do poema ‘Filó%2C a fadinha lésbica’ (censurada por mim)Jaguar / Agência O Dia

Rio - Na verdade, uma velhinha e dois velhinhos: Hilda Hilst, Millôr e eu. Dela, raros ouviram falar, mesmo depois de Léo Gilson Ribeiro, grande crítico literário (também pouco lembrado) ter dito que era “a mais perfeita escritora viva em língua portuguesa”, alguém que escrevia “a mais abissal e deslumbrante prosa poética do Brasil posterior à genialidade de Guimarães Rosa”. Passo, sem pedir licença, a palavra para Humberto Werneck, que escreve muito melhor, para apresentá-la. São trechos que fazem parte do livro ‘Pornô Chic’, coletânea de alguns textos safados de Hilda, em recente lançamento da Biblioteca Azul: “Desde sua estreia em livro, há 40 anos (o artigo é de 1990), Hilda Hilst viu cristalizar-se em torno de si a legenda de uma autora de textos herméticos, impenetráveis. Muito a contragosto, viu-se transformada num desses escritores ‘difíceis’ de quem, aqui e ali, se fala elogiosamente, mas que pouquíssimos atravessam de ponta a ponta.

Enfurnada num sítio nas vizinhanças de Campinas, a cem quilômetros de São Paulo, onde vive desde meados da década de 1960, Hilda Hilst, paulista de Jaú, arrastou estoicamente esta imagem ao longo de 28 livros de poesia, ficção e teatro. Até que um dia, algum tempo atrás, cansada de não ser reconhecida, ela explodiu e — para o pasmo de seu esquálido ciclo de admiradores — anunciou conversão à pornografia. ‘Eu não vou escrever mais nada, a não ser grandes e, espero, adoráveis bandalheiras’, proclamou.” Foi aí que Millôr e eu entramos na história. Levei um susto quando recebi um telefonema dela, que não conhecia pessoalmente (não me perguntem a data, só sei que foi na segunda metade do século passado). “Jaguar”, disse ela, “cansei de fazer literatura séria sem ganhar dinheiro. Queria que você ilustrasse um poema pornográfico, ‘Bufólicas’. O Millôr topou fazer desenhos de ‘O Caderno Rosa’, de Lori Lamb. Queria que você ilustrasse esse.” Topei na hora, obviamente honradíssimo. A ilustração acima é do poema ‘Filó, a fadinha lésbica’ (censurada por mim).

A noite de autógrafos foi numa boate gay, em São Paulo. Receio que Hilda não tenha ficado rica, pois escolheu um editor insólito: Massao Ohno. Pra você ter uma ideia, ele publicou um livro, ‘Sete desenhistas brasileiros de humor’, que nunca chegou às livrarias. E agora, saia correndo para comprar ‘Pornô Chic’ antes que acabe.

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