Por bferreira

Rio - Aí o Rio faz 450 anos e, nesta festa, fico a me perguntar por que nossa maravilhosa cidade não tem shows de escola de samba e ritmos típicos para mostrar aos turistas (e aos cariocas que adoram ver seu gênero maior bem dançado, bem interpretado, bem contado). Falo isso porque, como vou muito a Buenos Aires, já vi mais de 23 shows de tango espalhados pela cidade do Rio da Prata e estou intrigadíssimo sobre por que o mercado portenho de shows é tão mais desenvolvido que o nosso, quase inexistente. E não falo de governo, prefeitura, porque lá nada é oficial, tudo iniciativa privada que faz girar a grande máxima de que o show não pode parar.

Alguém pode me explicar pelo amor de Deus por que nossos empresários de shows de variedades inexistem, ou contam-se no dedo indicador? Para meu desespero, fico a pensar se Buenos Aires é mais orgulhosa da sensualidade de suas bailarinas, ou menos receosa de que isso seja confundido com turismo sexual. Na maioria dos shows, a calcinha é peça fundamental no jogo de pernas delas, e sempre tal dança me dá a impressão de ser um teste de quanto tempo o macho resiste sem ejacular. É um tal de roça-roça magistral (as bundas de nossas mulatas chegam a ser pudicas diante desses monstros do tesão), e o passo que acho mais sensual e absurdo é quando a tangueira coça a nuca do tangueiro com a batata da perna, fazendo com que a plateia imagine suas entranhas, tal a abertura e chave de coxas. É lindíssimo, é sensualíssimo e é extremamente cultural, pois atesta a passionalidade dos crioulos e boêmios que vagavam pelas esquinas pobres da zona animada de lá nos anos 10 e 20.

Os preços começam em 140 dólares, com direito a transporte ida e volta, jantar, vinho e o show. Existem cinco casas bacanérrimas deste naipe. Depois cai para 100 dólares, e tem opções de casais dançando num meio de mesas, tipo cabaré intimista, por 20 dólares, a coisa mais barata, a seco. Bebe e come quem quiser. Mas temos 30 opções orgulhosas e festivas da dança de lá.

E aqui no Rio? Temos o Plataforma, que está no nível dos médios de lá, portanto está 29 a 1 para eles, tipo a goleada da Alemanha na Copa. Já tivemos o Scala com Watusi e Grande Otelo, no Golden Rio e Golden Brasil dirigidos pelo Sherman, nos anos 80, produzidos por Chico Recarey. Foi nossa Era de Ouro, pois, como trabalhei no Scala, comparando com o que vi lá, o nosso era o dobro de melhor. Mas era uma só opção, para um tipo de turista. Então é melhor ter opções para muitos tipos de bolsos.

Uma pessoa me disse que o turista vem aqui querendo outro tipo de diversão. Será? Fico triste de ver o Rio fazer 450 anos sem espetáculos sobre seu show, que é o samba.

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