Por bferreira

Rio - Acordei muito cedo, o que é raro, espontaneamente, mais raro ainda, e comecei a ler os jornais pelo horóscopo. Outra novidade. Nunca leio horóscopos, embora acompanhe anualmente meu mapa astral e seja uma capricorniana convicta, como me classificava o querido psicanalista Hélio Pelegrino. E o conselho do horóscopo parece muito propício a este momento: “É tempo de não se desanimar pelas circunstâncias”. Parece conselho bobo, banal, mas veio a calhar. O cotidiano, com certeza, tem trabalhando contra o ânimo.

Independentemente dos fatos do dia a dia, ou talvez também por conta deles, tipo aumento da conta de luz, dos preços do supermercado, da violência doméstica contra mulheres e crianças, dos sequestros relâmpagos, dos serviços mal prestados, o comportamento perverso tem me deixado desanimada do ser humano. Cada um reage a seu modo diante das notícias e dos fatos que geram as notícias. No meu caso, este desânimo, me deixa sem vontade de me arriscar nas ruas e até nos shoppings. Cada um reage de um jeito. No consultório do médico, a secretária simpática vê a novela das seis com atenção, mas assim que acaba e anunciam o noticiário ela desliga a televisão, como se as notícias fossem contaminá-la. E me pergunta, incrédula, se eu queria ver aquilo, para me aborrecer. Tenho vontade de dizer a ela a frase que o grande cartunista Borjalo dizia quando alguém criticava o que a televisão mostrava: “Não adianta culpar a janela pela paisagem”. As notícias, como os seres humanos, estão de mal a pior, é verdade e confesso que o comportamento humano está me incomodando tanto quanto os escândalos financeiros ou as operações sobre dinheiros públicos desviados.

O ser esperto, o tal do se dar bem, que, há décadas, preferimos chamar de jeitinho brasileiro, tem me tirado do sério. Estou falando também das pequenas coisas do cotidiano, tipo o técnico da máquina de lavar que vem pela empresa, mas reclama que não o chamei pelo telefone dele para ele ganhar mais. Do entregador do eletrodoméstico novo que cobra a cerveja antes mesmo de me entregar o objeto cujo frete foi bem pago. Da propina que o organizador da fila dos táxis que cobra 2 reais de cada taxista que pega passageiro na porta do shopping que paga a ele, funcionário, para organizar a fila. Ou a senhora bem vestida que quase me derruba para pegar um segundo antes de mim a senha para ser atendida na agência do correio. Ou da grávida que fica na fila preferencial do banco, mas chama o marido na sua hora de ser atendida, porque, na verdade, ela só está ali para ele levar vantagem . São pequenos exemplos, no quintal da gente, que provam que o ser humano piorou muito como gente, ou será que sempre fomos assim, sem educação e sem ética? Será que é possível não se desanimar com as circunstâncias? Vou tentar, mas, sinceramente, acho difícil acreditar.

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