Por bferreira

Rio - Prometo que é a última vez que falo nele aqui. Peço desculpas por voltar ao assunto do atentado ao ‘Charlie Hebdo’. Como diz o samba, “abalou meu sistema nervoso”. Acho pertinente contar trechos de uma entrevista feita pelo Ziraldo com Wolinski na sua casa em Paris. Foi em março de 1975, há 40 anos. É tempo pra caramba: por coincidência, Wolinski, Ziraldo e eu tínhamos a mesma idade: 43 anos. Vale a pena transcrever a primeira pergunta do ilustre caratinguense, em ziraldês, uma espécie de esperanto inventado por ele: “Nous voulons to do some questions very personalles to you, avant de tout.” Ficamos sabendo que Georges Wolinski foi uma ONU ambulante: francês, nascido na Tunísia (seus pais foram para Paris quando ele tinha 12 anos). Pai polonês e mãe norte-africana, por sua vez filha de italianos.

E tanto o pai quanto a mãe eram judeus. Comentário de Ziraldo: “Você então é um judeu de esquerda (como Karl Marx)?.” “Não sou nada, porque eu sou ateu, apenas nasci judeu. Mas sou antissionista, o sionismo me repugna. Na verdade, você verá que nós, do ‘Charlie Hebdo’, tomamos posições pela não violência. Nos rotulam de esquerda porque não é possível ser de direita ou de centro, não se tem escolha. O problema é que nós entendemos melhor o que dizem as pessoas de esquerda. Mas será que um regime de esquerda suportaria as mesmas críticas que fazemos à repressão dos regimes de direita? Não tenho exatamente uma posição.” Intrigado, Ziraldo quis saber por que Wolinski — cujos primeiros desenhos publicados eram influenciados pelo pessoal da MAD, especialmente Harvey Kurtzman, com perspectiva, plano de fundo, detalhes minuciosos — mudou radicalmente seu traço. Era quadrinhista, e dos bons. Fazia o maior sucesso, ganhava um bom dinheiro, mas de repente cismou de trocar seu desenho primoroso por toscos croquis de fantasmas narigudos. E continuou fazendo sucesso.

Segundo ele, mudou de profissão; deixou de ser desenhista de histórias em quadrinhos e virou um jornalista que que faz charges. E continuou fazendo fazendo o maior sucesso. Ou não, dependendo do ponto de vista: os assassinos do Estado Islâmico detestaram. Sempre fui pela não violência, incapaz de matar uma mosca, mas vou, no caso, abrir uma exceção. Acho que os terroristas que sobreviverem (inclusive aquele menino que estourou os miolos do prisioneiro, como vimos na TV) deveriam ser decapitados com tesourinha de unha: devagar, devagarinho.

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