Por bferreira

Rio - O leitor escreve, preocupado. Acha que estou desiludida, desanimada e tenta me estimular. Acho, sinceramente, que ele pode ter razão. Posso estar mesmo menos alegre. Só não acho que estou sozinha neste sentimento ou com esta sensação. Mas ele também tem razão em chamar minha atenção para isto. Não podemos aceitar nem gostar deste tempo de intolerância que estamos vivendo. Mas não é hora de desanimar. É hora de buscar saídas, mudar conceitos e atitudes. É hora de repensar a vida com um viés positivo.

Um bom começo seria a busca por um comportamento mais democrático, menos inquisidor e menos arrogante de modo geral. Lendo a coluna da Karla Prado anteontem, aqui mesmo, neste espaço, pensei muito nisto. Na intolerância. Vi exatamente isto no espanto e na indignação dela com a violência das opiniões sobre o beijo das duas senhoras atrizes da nova novela das nove. Já passou da hora de entender que, cada um ou cada uma, tem seu direito ao amor, ao afeto ou ao beijo. Esta discussão começou com o beijo que não houve em ‘América’, novela de Gloria Perez, em 2005. E causa espanto e indignação até hoje, dez anos depois? Isto não faz o menor sentido. A mim, incomoda muito mais que a televisão brasileira não tenha na sua programação aberta um seriado tipo ‘Modern Family’, que vejo no Netflix, e que reúne famílias comuns, gay e hétero, numa relação afetiva, com todos os perrengues, alegrias e tristezas que acontecem nas famílias comuns, que existem no mundo inteiro, na capital e no interior, entre ricos e pobres, louros ou negros. Porque as pessoas são assim mesmo, aparentemente diferentes, mas essencialmente muito parecidas umas com as outras. O primeiro episódio da série foi ao ar em setembro de 2009 e já ganhou vários prêmios Emmy como melhor série de comédia da televisão americana. Por lá, é o programa favorito de Michele Obama (primeira-dama do Partido Democrata) e de Ann Rommey (mulher do candidato derrotado do Partido Republicano), prova de que agrada conservadores e liberais. Faz falta por aqui algo do gênero.

Independentemente da questão de beijo, faz falta também, nas novelas, principal diversão das famílias brasileiras, gente do bem, que faz o bem e se dá bem. Me preocupa também que, entra ano, sai ano, termina novela, começa novela, ninguém, nenhum personagem importante, tem algo de bom a oferecer, tem uma bandeira do bem a defender. Só os vilões fazem sucesso, defendem diferentes autores de novelas, mas não terá chegado a hora de mudar este quadro? Será que também já não passou da hora de pensar em mostrar gente boa tendo atitudes éticas, decentes, amorosas independentemente da escolha sexual? E tem coisa melhor que novela para ajudar a mudar comportamentos?

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