Por bferreira

Rio - Incomodada com o barulho que vem do baile funk , na quadra ao lado do meu prédio, paro pra pensar em como somos conformados, boizinhos de presépio e, vez por outra, temos um ataque , vamos pra rua,e reclamamos do governo, exigimos cidadania, o que faz sentido, nos vestimos de branco, mas no dia a dia somos completamente incapazes de sermos civilizados. Na verdade, um bairro inteiro está ouvindo o mesmo barulho que eu. Dezenas de pessoas estão sentindo os vidros de suas janelas tremerem como eu estou sentindo, mas ninguém reage. Todos fazem ouvidos moucos e fingem que nada acontece.

A sensação que tenho é que não é chique exigir seus direitos. O que, de modo geral se faz , no máximo, é reclamar pelos cantos, pelos bares, nos elevadores, com os porteiros. Levei esta discussão para o Facebook e fiquei perplexa com a quantidade de gente de diferentes bairros do Rio e de dezenas de cidades do país que estão vivendo a mesma situação que eu. Alguns ligaram para suas prefeituras, falaram com associações de moradores, chamaram a polícia, foram classificados como chatos,nada conseguiram.

A grande maioria segue calada e o barulho continua ensurdecedor. E, embora não seja meu tipo de música preferida, não estou aqui para reclamar do funk em si. Reclamo do excesso de barulho e da falta de respeito pelo sono alheio e pelas regras de viver e conviver em sociedade. Li várias reclamações de quem mora em condomínio de casas de alto padrão, cujas festas dos vizinhos, com música eletrônica e DJs famosos, incomodam do mesmo jeito e com a mesma intensidade. O barulho das nossas cidades é democrático. Todas as camadas sociais, todos os tipos de moradias passam pelo mesmo problema. Ou seja, a falta de educação é de todos, para com todos e para todos. Há que ter uma norma a ser seguida já que o chamado bom senso não funciona e todos nós sabemos disto.

Sei que há problemas maiores nas cidades, sei que aquelas pessoas estão se divertindo e este é um direito de todos. Mas e o direito de quem quer e precisa dormir, também não é um direito de todos? E também acho bom deixar claro que neste baile especificamente, que está na moda, é na quadra que pertence à comunidade, mas só é frequentado mesmo pela moçada do asfalto que finge que se mistura com o pessoal da comunidade, que não pode pagar o preço do ingresso, portanto não há preconceito social embutido nesta reclamação. Há, sim, um direito que as nossas prefeituras não respeitam, nem os moradores das cidades, como a lei do silêncio em desuso e dúvidas que não me saem da cabeça: quem fiscaliza? quem dá alvarás? Por que não exigem tratamento acústico nos espaços destinados a festas até altas horas? Por que será?


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