Por bferreira

Rio - Amanheço do feriado que não termina. São Jorge e Tiradentes, sem contar Pixinguinha, o santo carinhoso da música brasileira.

Já faz um tempo, fui visitar um bar em Olaria, subúrbio da Leopoldina, especializado em pastéis: Bar da Portuguesa. Na época, conhecido como Copão de Ouro, o lugar transbordava carisma. De esquina e ampla calçada, sento com ar de farol da Barra, onde tudo posso ver. Encantado com a aragem, pergunto a dona Donzilia sobre a freguesia: “Alguém famoso, minha senhora?” E a anfitriã, trazendo os pratos: “O Seu Alfredo não saía daqui...” “Quem?” “Seu Alfredo! Pixinguinha...” Depois, apontou pra uma rua a 50 metros do meu copo, poucas casas e o nome do maestro na placa do logradouro. Tive delírios de Benguelê. Ainda argumentei sobre a mesa que ele ocupava em suas semibreves etílicas, respondida com um verbo: “ Dei”.
Quis me suicidar.

Durante anos, usei a sua imagem como um desses santinhos dados em graças alcançadas. De São Jorge eu tenho até o chaveiro. Uso um anel, mil camisas, além de pinturas, cavalos e dragões sob as vestes do Guerreiro.

Meu parceiro e escritor digno de Academia, Nei Lopes, orienta: “No Ceará, o santo é São José. Santo Antônio em Aracaju, mas no Rio é Jorge!”

Nosso eterno Jorge Ferraz ,do Renascença, tempera um galo pra ocasião. Claro, feijoada não pode faltar. Jorge é de Aragão, é Ben Jor, é Veiga, Jorge é carioca. Uma grife.

De vermelho, varei a madrugada. Olhos da mesma cor choram na alvorada.

Os bares abrem suas portas mais cedo.

Uma mínima luz no alto da parede anuncia a sua presença. O protetor abençoa os tragos, enquanto outro choro, bandolins e sopros fraseiam ingênuos lamentos cochichando rosas pela cidade. É Pixinguinha contra o som da intolerância.

O Rio e seus rumores.
Aproveitamos a proximidade com Tiradentes enforcando a sexta­feira atrás de paz e bem viver.

Das cordas, só violões ou cordas de carangueijos. Espadas, só os peixes brilhando nas bandejas de São Pedro.

Quando morreu dentro de uma igreja, Pixinguinha virou orixá, louvado seja senhor. Jorge desceu Quintino, amansou o cavalo e virou partideiro. Sincretismo carioca.

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