Rio - Um filho com deficiência provoca profundas mudanças na família. Uma criança aprende com facilidade a vestir-se, a lavar-se e a fazer tantas outras coisas elementares. Simplesmente vivendo ela aprende. Já uma criança ou adolescente com deficiência, na maioria das vezes, terá grandes dificuldades para realizar tarefas comuns. A dinâmica familiar se altera, e mães se veem sozinhas na educação do filho deficiente.
Transformam-se em educadoras, cidadãs, embaixadoras e militantes dos direitos civis, buscando nas ruas o apoio e o reconhecimento público de sua nobre causa. Transformam-se em guerreiras incansáveis pela legalidade e pela justiça, nutrindo imarcescível e esperançoso amor, ainda que diante de tão árdua e extremada tarefa.
Muitas delas, mesmo com dificuldades financeiras, conseguem superar diferentes empecilhos para ter tratamento e educação para seus filhos. Negam-se a sonhar seus próprios sonhos, abnegadas pela ousadia de desejar um mundo melhor para eles. Foram elas que, com a força da família, idealizaram leis que hoje amparam a pessoa com deficiência neste país, inspirando educadores, conquistando o apoio popular e a atenção da mídia.
Durante muitos anos, pessoas com deficiência viveram afastadas do convívio social, estigmatizadas pela relação que se fazia entre deficiência e ineficiência, como se fossem causa e efeito. Levadas à categoria de invalidez, não eram consideradas capazes para o trabalho ou para o estudo. Foram preteridas, discriminadas e esquecidas, renegadas a uma condição de proscrição.
Hoje, a sociedade começa a ver o deficiente com outros olhos. Essa vitória, que ainda é o início de longa jornada, deve-se, principalmente, a essas mães. Se um direito básico de todos é o direito à Educação, no campo da inclusão essas mães têm sido essenciais para a interação entre família e escola. É na família que os filhos aprendem a reconhecer o papel dos professores, pois aprendem a reconhecer o papel dos pais. Assim, naturalmente, a educação familiar alia-se à escolar.
São mães especiais, como são todas as mães. A elas a vida impôs a condição resiliente de vencer desafios pelo simples fato de serem mães, porém especiais e eficientes.
Eugênio Cunha é especialista em autismo