Por paulo.gomes

Rio - O primeiro que conheci foi nos anos 50, quando estudava no Colégio Ruy Barbosa, numa rua perto do Largo do Machado. O Camundongo morava num carro de puxar, de duas rodas, um burrinho sem rabo. Estacionava a ‘residência’ no Largo. Com latas, lonas, caixotes e placas de zinco amarrados com arame, construiu uma espécie de labirinto. Hoje poderia exibir como instalação e até ser premiado na Bienal. Fazia jus ao apelido: miúdo, olhos matreiros, bigodinho ralo, passava horas no bojo da geringonça. Dormia lá, às vezes saía fumaça cheirando a fritura.

Outra figura era o Homem-Éter, perambulava pelo Posto 5 de Copacabana. Ao contrário do Camundongo, era um sujeito grandalhão. Carregava sempre uma garrafa com éter, que cheirava o tempo todo. O cheiro o precedia; antes de dobrar uma esquina, sabíamos que estava chegando. Os dois não falavam com ninguém, nem para pedir nem para agradecer as esmolas, mas eram tranquilos e não incomodavam. Já a Preta da Cobra falava pelos cotovelos.

Circulava pelos bares do Leme, vestida de baiana, com uma jiboia enrolada no pescoço. Se oferecia para ler na palma da mão a sorte dos bêbados de plantão. Poucos ousavam recusar. Eu devia ter bebido todas quando disse que não estava interessado no meu destino. “Morde?”, perguntei. “Não, é mansa, criada em casa.” “Pago o dobro para enrolar no meu pescoço.” Quase me dei mal. Pensei que ia picar a mão que segurava o copo. Fiz um gesto brusco e quase fui estrangulado. A baiana me salvou da bichona: “Ela gosta de cerveja, você a assustou.”

Não sei que fim levaram os três, mais a jiboia. O Homem-Éter deve ter explodido quando alguém acendeu um cigarro perto dele. Outros, tidos como malucos, são conhecidos. Não posso deixar de falar no Gentileza, que até virou samba-enredo da gloriosa Portela. É considerado como filósofo e autor de frases memoráveis (tudo baboseira, coisa de 171). Chegaram a escrever livros e teses sobre ele. Sempre o achei um chato de galochas. Uma vez, na barca da Cantareira, dei-lhe um chega pra lá quando tentou me doutrinar (antes da Igreja Universal). E, zanzando pelo Leblon, a Mulher de Branco (procure no Google), maluca-beleza que foi top model, amiga e vizinha do Tom Jobim, ex-mulher de Marcos Valle. Agora se veste de azul por causa de uma música de Wilson Simonal. Mudou para pior, pelo menos de compositor. De fino trato, é querida no bairro. E é só. Alguém conhece outros malucos-beleza? Cartas para a redação.

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