Por bferreira

Rio - Há muito tempo me convenci de que é fundamental ensinar às nossas crianças, desde cedo, noções de direito, economia, administração, filosofia e moral. O ordenamento jurídico de uma nação reflete seu ordenamento moral e filosófico que, por sua vez, advém de nosso ‘software’ cultural. Este diz que existem várias categorias de pessoas, e que é normal que algumas tenham muito poder (por exemplo, um ministro ou um desembargador) e outras não tenham poder nenhum (um pedreiro ou um médico de um hospital público).

A nossa cultura vê essa diferença de poder como natural, e não como algo temporário e regido por lei. Temos a expectativa de que os poderosos sejam também ricos e influentes. Isso não é verdade em todas as sociedades. Um juiz da Suprema Corte dos EUA é poderoso e influente, não rico. Os bilionários de lá são influentes e ricos, mas não poderosos como os nossos (lá vão presos e ficam na cadeia por anos, como Michael Milken e Bernard Madoff).

Nossa sociedade vê o poder como direito de nascença: é natural que o filho de um governador ou presidente, por mais incapaz que seja, ambicione e atinja posições políticas elevadas. É natural que fique rico.

Só percebemos o quanto isso é absurdo quando um juiz dá voz de prisão a atendentes de uma companhia aérea ao perder o voo por chegar atrasado, ou quando um bandido condenado a centenas de anos de prisão voa de helicóptero para uma audiência, ou quando nossos homens públicos violam os princípios morais mais básicos à vista de todos.

No Brasil o poder não é regulado por nenhuma lei; a lei é que se submete a ele. O poder dos ministros e dos bandidos, dos banqueiros e industriais amigos do rei; o poder dos sindicatos pelegos e do MST. O poder do pequeno funcionário público que nega um carimbo, que exige cópias autenticadas, que adia um alvará para o Dia de São Nunca. O poder do genial e anônimo lobista que conseguiu trocar todas as tomadas do país.

O único que não tem poder é o trabalhador pagador de impostos, que não tem cargo no governo e que passa a vida em equilíbrio precário, dependendo para tudo dos poderosos. É esse aí, sem poder algum, que os políticos chamam de eleitor.

Roberto Motta é engenheiro civil e empresário

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