Por paulo.gomes

Rio - Há uma atitude da Prefeitura do Rio que desloca o eixo de poder e importância para Madureira: o Palácio de Despacho (e não é do Candomblé!) Oficial, durante dois dias na semana, segue a linha do trem e se muda com todos os seus salamaleques para o subúrbio carioca. Não é pouco na cidade partida, onde coisas que acontecem na Zona Sul encontram enorme caixa de ressonância, porque a maioria de nós, formadores de opinião, está por aqui. Se temos que pensar o país como um organismo único, é louvável ir montar barraca no meio da gente humilde.

É simbólico, pois o endereço novo dá proximidade para aquela miragem que sempre foi o poderoso alcaide. De figura distante, ele está ali, chegando e saindo em seu carro, fazendo as agendas serem obrigadas a ir até lá. E aguentar o calor senegalês, dor e delícia do carioca.

Pois Eduardo Paes pegou uma residência de cem anos atrás e mandou transformar num único salão (refrigerado, porque ninguém é de ferro) com sua mesa e outra de reunião. No primeiro piso, colocou os postos dos assessores que controlam o entra e sai. Desapropriou o entorno, colocou chafarizinho (minha escala alegórica quer sempre aqueles enormes) com os golfinhos do Brasão. Há palmeiras recém-plantadas lutando contra a aridez, tendas para encontros e homenagens, o que está obrigando os bacanas a pegar a 24 de maio ou a Brasil, exóticas vias que só os levava às escolas de samba ou a Angra, e agora os leva à oficialidade.

É novo, é democrático, é a busca de diálogo, e acho muitíssimo, pois sempre percebi esta gente querendo distância daquela gente. Só iam para lá em época de eleição, frase chavão que cai por terra, Rua Carolina Machado 920.

O Prefeito abriu o janelão, estava passando um trem, eu exclamei: “Olha as residências do outro lado, lá aqueles apartamentos olham direto pra cá; aliás, prefeito, já temos as três bandeiras aqui nestes mastros da esquerda: Brasil, Rio Estado e Capital. Estes dois mastros vazios à direita são para a as Olimpíadas?”. Eduardo Paes: “Não, Milton, são para mostrar o humano, o torcedor por trás do político: vou hastear as bandeiras da Portela e do Vasco, para mostrar que tenho minhas preferências como todo carioca; quando entrar outro prefeito, ele hasteia as preferidas dele”.

Amados, não é o máximo? Vivemos dizendo que político fica em cima do muro, que não toma partido nas causas populares, pois este vai dar a cara a tapa. Nunca antes se viu nada igual, porque nesta terra em que falta humanidade alguém reafirmar que é normal, sim, como todo mundo, já é um ótimo início de conversa. Falta muito, mas isto é a cara vanguardista do Rio!

E-mail: chapa@odia.com.br

Você pode gostar