Por bferreira

Rio - O ministro da Saúde, Arthur Chioro, admitiu que o país vive epidemia de dengue. De janeiro até o início de maio, 746 mil pessoas foram infectadas, e um brasileiro morre a cada 11 horas vítima do vírus. A ameaça da doença tornou-se assunto recorrente, e sua prevenção, objeto de obsessão. Até o Exército foi acionado contra o mosquito! Sim, é uma guerra, e o Brasil está perdendo para o Aedes aegypti.

O que falar dos serviços de saúde? É o retrato da tragédia anunciada há muitos anos. A sala de espera é uma atmosfera do caos. Centros públicos estão lotados, obrigando a instalação de tendas para tratamento. A realidade é menos crítica nos hospitais privados, mas mesmo assim é preciso paciência.
Autoridades falam que é pontual, que houve a volta do tipo 1 do vírus (são quatro). No Sudeste, particularmente em São Paulo, devido à crise hídrica, muitos moradores estocaram água sem cuidado, aumentando os criadouros. Será?

Há origens crônicas por trás do desastre. Em primeiro lugar, a política de prevenção, que deveria ser executada de forma contínua pelas esferas federal, estadual e municipal, é bem falha. Depois, há deficiências estruturais nunca sanadas que contribuem para a repetição das epidemias. A urbanização mal planejada, sem saneamento básico ou coleta de lixo, que prejudica o escoamento de água, é um exemplo. A dengue é a doença que mais retrata nossa urbanização caótica.

Outro ponto que precisa de atenção é o diagnóstico integrado ao mapeamento em tempo real da epidemia. A de São Paulo começou seis meses atrás, mas, como ninguém deu ‘bola’, veio o surto. Se detectasse em tempo real o início da epidemia com precisão, o governo poderia limitar o perímetro e atuar nele para não chegar ao caos que está.

Se nada for feito agora, o país continuará sujeito a desastres como o atual. O sistema de atendimento deve melhorar. É preciso pensar em uma política de prevenção para que não aconteçam mais mortes por conta desse mosquito. Agora fala-se dos vírus chikungunya e zika, ambos transmitidos pelo Aedes. É triste reconhecer que é apenas questão de tempo para que se tornem outra epidemia.

Marco Collovati é médico e presidente da OrangeLife

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