Por adriano.araujo

Rio - A prisão dos dirigentes da Fifa na Suíça é o sinal vermelho, que há muito tempo estava amarelo, demonstrando que os negócios com o futebol podem envolver tenebrosas transações desconhecidas da maioria dos torcedores. Os financistas internacionais a cada dia se tornam mais intolerantes com os atos de corrupção que lhes provocam perdas. Tal como um senhor do Brasil rural de antigamente, que matava pequenos proprietários para lhes roubar as terras, mas que — em nome da moralidade — era intolerante com pequenos delitos em seus domínios, os senhores do sistema financeiro internacional não toleram as transgressões que diminuam o fluxo da pilhagem internacional que promovem.

Houve um tempo no qual as obras públicas eram o meio de desvio de recursos, mediante pagamento de comissões e propinas. Hoje a apropriação pode ser do todo, e não apenas da comissão. Em se tratando de obras, elas precisam ser feitas, mesmo que superfaturadas. Mas, para os serviços, basta a declaração de que foram prestados. Se uma agência de publicidade é contratada para elaborar um anúncio, quem haverá de dizer que não foi feito? Já houve caso de publicidade contratada num jornal de interior, cujo único exemplar impresso o foi o apresentado para o recebimento dos valores do contrato. A mesma coisa se pode dizer da venda de um jogador. Se vale cem milhões ou um bilhão, quem haverá de dizer? Tanto pode ser um negócio real quanto apropriação de verba do clube ou lavagem de dinheiro — proveniente de crimes — e que precisava de justificava legal para ser contabilizado.

A Fifa é uma instituição singular. Tem mais países associados que a ONU e não tem filial. A Suíça, onde está sua sede, não reconhece a jurisdição de nenhum país para julgar contratos celebrados por lá. Para realizar a ‘Copa Brasil de 2014’ foi constituída aqui uma empresa chamada Fifa-Brasil, dissolvida ao fim do campeonato. Há esportes de várias categorias: desporto educacional ministrado nas escolas, desporto recreativo que pode ser praticado por pessoas de diferentes idades e o desporto de rendimento ou de competição a que o prefeito Eduardo Paes se referiu quando falou do futuro da Vila Olímpica. Este último é o “sport-business”, desporto praticado por José Maria Marin, que acaba de ser preso. O desporto é o esporte dos cartolas, dizia Stanislaw Ponte Preta.

?João Batista Damasceno é doutor em Ciência Política pela UFF e juiz de Direito

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