Rio - Um misto de sentimentos se prolifera. Trinta dias lavando a alma e mergulhada no lado bom da vida não se equivalem a 335 enfrentando a vida com otimismo. É diferente você ficar purificado, longe de tudo. Ver a vida passar no interior. Não se aprofundar na notícia. Já critiquei um amigo que parou de se informar. Concordar com isso seria dar um tiro no pé para uma jornalista. Não dá para fingir que os problemas não existem. Mas isso tem lá suas vantagens.
Entro no salão para dar uma geral e voltar à rotina de trabalho. A manicure começa: “Karla, me diga você, que é repórter. O que acha que vão fazer com os ladrões e todos os cracudos soltos por aí nas Olimpíadas? Seja sincera.” Respondo que vão esconder todos. “Como acontece desde a Eco 92. Ninguém vai ver nada disso nas ruas”, chuto. “Ah, é? Tá enganada! Vão prender pra quê? Pra Justiça mandar soltar? Esses juízes não têm mãe? Não têm família? Queria ver se fosse com os filhos deles tudo o que está acontecendo!”, ela me olha, indignada. “Já está de tal forma que o povo não aguenta mais. O povo está cansado de ser bom, de ser honesto, para perder tudo para a malandragem sem ninguém para protegê-lo.
Se os governantes não fizerem nada, acabou. O pessoal tá comprando pistola automática. Você viu o vídeo do motorista atropelando os ladrões no Facebook? Todo mundo vibra quando vê!”, conta. “O cara comprou o carro à prova de bala, os ladrões vieram e bateram com o revólver na janela. Ele não abriu o vidro, pois sabia que o carro era blindado. Vieram outros dois motoqueiros. Antes mesmo de começarem a atirar, o motorista deu ré e foi para cima deles”. Digo que não vi o vídeo, que não podemos nos permitir viver assim, com tantas barbaridades, que para isso as leis foram criadas. Mas que também sinto falta de proteção.
Tento mudar de assunto. “E de celebridade, aconteceu o quê, no último mês?”, pergunto. “Ah, teve o pouso forçado do avião de Angélica e Luciano Huck”. Digo que dessa eu soube. Meio minuto depois, eu me traio e comento: “Já são 13 vítimas de ataques a facas, né? Alguma autoridade se manifestou?” “Se se manifestou, eu não sei. Do que adianta? Mas é muito cruel você perder um filho por causa de um celular, de um iPad. E não tem mais malvestido ou bem-vestido. A crueldade não escolhe cara. Foi assim com um jovem de 17 anos no trem. E o criminoso ainda saiu andando sem ser pego, como sempre (acabou preso ontem). Imagina seu filho, que você cria com todo amor, só por ele sair com as coisas dele todo bonitinho na rua, morrer. Isso é vida? Saia daqui se você puder”. A pedicure, que até então estava calada, resolve se manifestar: “E saia enquanto é tempo. Porque eu vi na televisão que tem um casal no Rio sequestrando criancinhas dos colos dos pais”.
Diante da retrospectiva imposta do mês de maio, pergunto: “Quem fará algo por nós?”
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