Por bferreira

Rio - A natureza sempre dá sinais. E a pajé marajoara Zeneida Lima soube captá-los. Ela sente as manifestações, absorve as energias e ouve os Caruanas — entidades da floresta — para, seguindo suas orientações, preservar o meio ambiente, em luta constante para garantir a salvação do planeta.

Zeneida tem 80 anos, é cabocla com sangue indígena, africano e espanhol. Quando jovem, queria ser advogada, mas nasceu com os sinais de quem foi predestinada a ser pajé, para curar os males de quem está desequilibrado com a natureza. Como pajé, ela tem o conhecimento dos remédios vindos da floresta, sabedoria adquirida com o pajé-mestre Mundico, nos anos 40.

A protagonista dessa história sempre soube da importância de registrar todo o conhecimento para difundir os valores de sua gente. São diversos livros publicados, mas ‘Meus Caruanas’, contendo o depoimento de sua vida, inspirou-nos na produção do longa-metragem ‘Encantados’, a ser lançado este ano.

Não é só com o registro dos conhecimentos que Zeneida contribui com a preservação ambiental. Ela e a família mantêm uma escola de Ensino Fundamental para 300 crianças das comunidades abandonadas de Soure. Lá, as crianças são alfabetizadas e aprendem a entender que a natureza sempre as protegerá, se por elas for protegida. Para isso, Zeneida oferece recursos para que encontrem suas origens culturais — indígena, africana e europeia — nessa terra assolada pelo genocídio indígena na colonização branca.

A pajé chama-lhes atenção para valorizar a cultura dos antepassados, devolvendo-lhes a autoestima, preparando-as para percorrer caminho livre da opressão da sociedade. Sociedade caracterizada pela corrupção, injustiça e consumismo e sem espaço para valorizar a natureza.

Tendo consciência de que seu saber está em extinção, Zeneida luta pela sua preservação. Ela tem mais uma missão: o Museu da Pajelança Indígena. Generosa, Zeneida quer dar acesso às pessoas preocupadas com a sustentabilidade e com a preservação ambiental ao seu gigantesco acervo de conhecimento e sabedoria com o museu. Que os Caruanas continuem a protegendo, mas que os homens despertem para ajudá-la na preservação desse inestimável tesouro a ser doado à humanidade.

Tizuka Yamasaki é cineasta e conselheira do Green Nation

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