Por felipe.martins

Rio - Reza o ditado que não adianta chorar sobre o leite derramado. Nada fará com que ele retorne ao copo ou à garrafa. Isso se aplica ao fenômeno Eduardo Cunha. O PT, ao fazer opção preferencial pelo PMDB, agora colhe o que semeou. Acreditou que 300 picaretas iriam, da noite para o dia, como por milagre, se transformar em pazinhas adequadas para encher o seu caminhão de areia, ou melhor, de votos e apoios no Congresso.

Haveria alternativa à governabilidade? Sim, o exemplo de Evo Morales. Ao assumir a Presidência da Bolívia pela primeira vez, ele não tinha apoio nem do mercado nem do Congresso. Mobilizou, então, seus aliados históricos: os movimentos sociais. Assim, conseguiu modificar o perfil do Congresso boliviano e obter o apoio do mercado. De todos os atuais governos progressistas da América Latina, o de Morales é o que apresenta resultados mais positivos e solidez política.

No Brasil, os grandes partidos se amesquinharam, e os pequenos, com raras exceções, são balcões de negócios. A catarata do poder cegou-os ante o horizonte histórico. Trocaram princípios por interesses, ética por negociata, ideologias por ambições corporativas.

O país melhorou nos governos Lula e Dilma? Muito, como nunca em nossa história republicana. Contudo, o belo carro do neodesenvolvimento trafegou em estrada esburacada. Não se cuidou de assegurar as bases da sustentabilidade.

Nenhuma reforma estrutural foi feita em 12 anos de governo petista. A inclusão econômica de 45 milhões de brasileiros não veio com redução da desigualdade social. Estimulou-se o consumismo sem politizar a nação. Maquiou-se a economia com a farra de bancos estatais acelerados por pedaladas fiscais e desonerações tributárias às grandes empresas (haja carros nas ruas carentes de transporte público!).

Chegou a hora da verdade! Do balanço de acertos e erros. Foi preciso chamar um ‘Chicago boy’, Joaquim ‘Mãos de Tesoura’ Levy, para tentar salvar a economia, sacrificando os mais pobres. E o Congresso foi abocanhado pela dupla Cunha-Renan, que consegue deslocar o eixo do poder do Planalto para as suas casas legislativas.

Cadê o Conselhão? Cadê o diálogo com os movimentos sociais? Cadê a agenda positiva capaz de fazer sombra às reiteradas denúncias de corrupção? Cadê, enfim, o projeto histórico de “construir um novo Brasil”?

Diante do leite derramado, urge reinventar o processo político brasileiro.

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