Por felipe.martins

Rio - Por falta de espaço, tomei coragem para jogar fora uma pilha de elepês que atravancavam o apartamento. Não me servem para nada, a vitrola escangalhou. Mas o primeiro que peguei, ‘Vem Quem Tem’, de João Nogueira, me fez adiar o plano. Jogar um disco desses no lixo é um atentado cultural digno do Estado Islâmico. É de 1975, muito antes do nascimento do Diogo Nogueira. E conta com a participação da patota do ‘Pasquim’: Redi (que fez a capa), Sérgio Cabral (o pai), Albino Pinheiro e eu. Na contracapa, uma entrevista, que transcrevo.

“A gente se conhece há muito tempo e há milhares de litros de cerveja. Outro dia, na inauguração da ala infantil da Em Cima da Hora, em Cavalcanti, nos encontramos e resolvemos fazer a contracapa do disco do João em forma de entrevistim. Tinha um gravador dando sopa, e o papo que saiu foi esse:

Cabral: — Que time é teu?

Nogueira: — Andaraí no teu gramado. Mas no fundo mesmo sou é Flamengo.

Albino: — Você ainda é um cidadão do Méier?

— Vou ficar lá até virar rua.

Cabral: — Diga um verso que gostaria de ter feito.

— “Vamos indo de carona na garupa leve /de um cavalo baio / no clarão da noite...” É do Paulo César Pinheiro.

— Você está cada vez melhor como cantor. A que atribuir esta fantástica melhorada?

— Negócio seguinte: Não sou propriamente cantor, sou é compositor. Quando comecei a cantar tinha um pouquinho de medo de microfone, como todo mundo. Tem cantor que no show é excepcional mas no estúdio embatuca, né? O Adelson Alves me deu umas regrazinhas de dicção e tal, isso no primeiro disco, depois fui aprimorando.

Albino: — Qual é a desse disco?

— Esse é o meu terceiro elepê. As músicas são todas novas, exceto ‘Homem com um braço só’, homenagem que fiz pro Natal da Portela. Na saudade, né? ‘Não tem tradução’, de Noel Rosa, está valendo até hoje, o homem sabia de tudo.

Eu: — Duas homenagens que você presta. Tem mais?

— ‘Mineira’, uma graça que fizemos a Clara Nunes. De parceria com Claudio Jorge, ‘Chorando pelos dedos’, homenagem a Joel do Bandolim, bem presente neste disco. Eu não podia deixar também de me lembrar do Monarco e do Seu Alcides, da ala de compositores da Portela,da qual faço parte com muita honra. Esse samba tem 25 anos, ‘Amor de Malandro’.” (continua)


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