Por bferreira

Rio - Depois que se criaram ONGs — que pelo nome são ‘não governamentais’, mas todas vivem do dinheiro público, pouco controlado, inclusive —, o Rio viu serem fechadas e encolhidas algumas das mais tradicionais e importantes entidades filantrópicas. Geralmente sob o comando de senhoras devotadas e de sensibilidade social, sem remuneração alguma.

Muitas definharam em função da perda de suas ‘madrinhas’, como a Casa do Pequeno Jornaleiro, fundada por Dona Darcy Vargas e depois dirigida pela filha, Alzira Amaral Peixoto. A Pro-Matre, onde nasceu o presidente FHC, era uma maternidade exemplar, no Centro, que teve seus anos de eficiência sob o comando de Gilda Rocha Miranda Sampaio, cujo marido era o presidente da Panair do Brasil. O prédio está lá, e nenhum governo o assume.

A Santa Casa e a Beneficência Portuguesa são exemplos significativos da omissão oficial em assumir ativos de grande sentido social e humano na cidade. A primeira preocupa o governador Pezão, mas dificuldades jurídicas e jogo de vaidades impedem a entrada do estado e a formação de junta mista de comando. Esta, por parte da Santa Casa, seria composta por médicos titulares de enfermarias, homens dedicados e da dimensão de Paulo Niemeyer, Ivo Pitanguy e Sérgio Novis.

Na Lagoa sobrevivem — apesar de dificuldades até na legislação, que vem piorando, ao invés de evoluir — entidades admiráveis como a Obra do Berço, Pequena Cruzada, Ambulatório da Praia do Pinto, o centro de formação de artesãos O Sol e a mais importante do estado, e talvez do Brasil, a ABBR, fundada por Percy Murray, e que teve em Malu Rocha Miranda sua maior benemérita. A ABBR sobrevive como centro de referência graças à dedicação do presidente Deusdedith Nascimento, titular de importante clínica ortopédica, que doa horas de seu precioso tempo à instituição, que conta com excelente corpo de colaboradores.

Muitas destas instituições recebem emendas de parlamentares. E poderiam ser liberadas, o que ajudaria, e muito, na solução de problemas. Seria sabedoria dos governos, pois atenderia os políticos com a certeza de estar atendendo o lado social de nosso estado. Afinal, investir em entidades dirigidas por idealistas, voluntárias, é prestigiar o que resta de senso de responsabilidade social, solidariedade cristã, nas verdadeiras elites do país. No mais, o que se publica justifica preocupações.

Aristóteles Drummond é jornalista

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