Por bferreira

Rio - Tudo começou porque um homem empoeirado que carregava esculturas usadas na Cidade do Samba perguntou se eu poderia bater uma foto com ele. “Com o maior prazer do mundo”, respondi, abraçando-o e sorrindo para a câmera do amigo dele, mais empoeirado ainda. Pois bem, ele era o presidente da liga das escolas de samba de Muriaé. E, ao chegar de volta a sua cidade, fez com que o empresário Carlinhos Scarleth me contratasse para dar um workshop de confecção de fantasias carnavalescas lá na cidade deles. Dirigi cinco horas rumo às Minas Gerais e chegando lá dei de cara com um... Cristo Redentor de 20 metros de altura, o que nos fez cair na gargalhada, eu e minha equipe de professores. Soubemos que foi um pedido da mulher do ex-prefeito que queria porque queria um Cristo para chamar de seu. Toda a cidade adorou e ele está lá no alto do morro rogando por nós.

A sede de aprender, de ter acesso às informações dos grandes centros, fez com que toda gente artística da cidade corresse para nos ver. Os estudantes de audiovisual, os do teatro, os políticos, todos dão uma passadinha para ver os brilhos e plumas do Carnaval do Rio. E nosso núcleo de estudo sempre vira uma família ruidosa e alegre. Tocam os tambores, somos convidados para ver a quadrilha julina da cidade, há muita comida e bebida. E nas mesas das aulas, vou escutando as histórias humanas que abalaram a sociedade muriaeense e que tanto me interessam, porque é daí que alimento esta coluna semanalmente. Como gosto de gente e logo pego intimidade, o aluno me conta que há seis meses a cidade foi abalada por um crime horrendo: ameaçado pelo amante de que este iria contar para seu namorado sobre o caso que os dois mantinham, o rapaz enlouqueceu e arrancou as vísceras do outro, e pendurou-as de decoração do casarão. Imaginem a fascinação da estética: lustres de tripas, intestinos grossos e delgados em cortinados, esôfago no espelho bisotado. O assassino foi preso em flagrante pois uma amiga presenciou e enlouqueceu. Naquela noite, ele faria 18 anos e pasmem, o namorado oficial, moço traído, visita seu Jack, o estripador de Muriaé, todas as semanas no presídio. Entender o amor? Só que não.

Fui levado para conhecer as cinco comunidades das cinco escolas. Fiz a linha Beth Carvalho: subi e depois desci mais de 1.800 colinas. Tem o Bloco do Papagaio no alto da comunidade Aeroporto, vi a bateria infantil da Unidos de Santa Terezinha, posei na escultura do Canarinho, abracei a gente do São Joaquim e desfilei com o povo da Marambaia. Dizem que mineiro come quieto. Mas na hora de fazer Carnaval, eles são bem animados, pelo menos em Muriaé.

E-mail: chapa@odia.com.br

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