Bolívia - Num discurso considerado histórico, o Papa Francisco pediu ontem desculpas aos povos indígenas da América Latina pela “cumplicidade” da Igreja Católica com a opressão dos países europeus na era colonial. O discurso, em Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, foi o mais político de sua viagem pela América do Sul, que começou no domingo quando ele chegou a Quito, no Equador, e termina amanhã, no Paraguai.
“Alguns podem dizer que quando o Papa fala de colonialismo, ele se esquece de algumas ações da Igreja. Mas eu digo isso a vocês com lamento: muitos pecados foram cometidos contra os povos latinos em nome de Deus. Eu humildemente peço perdão, não apenas pelas ofensas da Igreja em si, mas também pelos crimes cometidos contra povos nativos durante a chamada conquista da América”, declarou.
Durante a viagem, o Papa vem reiterando a intenção de fazer da Igreja um refúgio para os pobres e oprimidos da América do Sul: por isso, o roteiro inclui os países em mais dificuldades no continente. A Bolívia foi intensamente explorada pelo colonialismo da Espanha, que extraiu riquezas naturais, em especial a prata.
O governo da Bolívia minimizou ontem a polêmica da véspera, quando o presidente Evo Morales deu de presente a Francisco um crucifixo com a imagem de Cristo sobre uma foice e um martelo, símbolos do comunismo.
Segundo o governo, a escultura foi apenas um “símbolo que Morales pensou que o ‘Papa dos pobres’ apreciaria”. “Foi um trabalho feito pelas próprias mãos de Luis Espinal, ativista jesuíta assassinado em 1980 por supostos paramilitares nos meses anteriores ao golpe de Estado”, disse a ministra da Comunicação, Marianela Paco. Ela acrescentou que “a foice significa lavrador e o martelo carpinteiro (...) ambas figuras que representam populações humildes, trabalhadoras, pessoas de Deus.” O Vaticano não se pronunciou.
Visitas em áreas carentes
Francisco prosseguiu sua viagem ontem, chegando a Assunção, capital do Paraguai, cidade em que 90% da população é católica e boa parte vive na pobreza. Ele foi recebido pelo presidente Horacio Cartes e autoridades religiosas, além de uma multidão de fiéis.
Um coro de crianças, composto em parte pela etnia Mbya, um dos grupos indígenas que sobrevivem no Paraguai em extrema pobreza, cantou o hino do país no idioma guarani e o hino pontifício. Houve também apresentação de grupo de dançarinas folclóricas. Depois, o Pontífice visitou, na capital, um presídio feminino, onde 51 mulheres o receberam com canto, violão e harpas.
Durante a visita, de três dias, o Papa se reunirá com o presidente Cartes e autoridades nacionais e eclesiásticas, assim como com representantes diplomáticos. Francisco ainda visitará um hospital pediátrico e um bairro de baixa renda.