Rio - Confesso: de todas as campanhas de sustentabilidade já desenvolvidas na cidade do Rio, nenhuma conseguiu me motivar pela causa. Ao contrário das autoridades, sigo, como a maior parte da população, fazendo o que está ao alcance para diminuir a pegada ecológica — o impacto das atividades humanas no meio ambiente. Aprendi que, quanto maior a pegada, mais danos são causados ao ecossistema.
No entanto, ao participar, sábado passado, de encontro de cidadãos fluminenses sobre a importância de se discutir o estado do Rio Carioca, fiquei, pela primeira vez, disposto a ir além. Não sei se você sabe, mas existe sob nossos pés um rio chamado Carioca, que nasce na Floresta da Tijuca, percorre Cosme Velho, Laranjeiras, Catete e Flamengo e deságua na Baía de Guanabara, na altura da Praia do Flamengo.
Durante a época colonial, ele foi a principal fonte de água doce para a população. Os Arcos da Lapa foram construídos exatamente para canalizar o leito e abastecer a cidade por meio de fontes e chafarizes. O mais famoso ficava no Largo da Carioca.
De lá para cá, o rio foi paulatinamente esquecido. Hoje, está poluído devido à ação humana e aos esgotos clandestinos jogados ao longo do curso. Isso sem falar nos equipamentos construídos durante a história da cidade — como reservatórios e galerias — que ficaram no meio do caminho, alguns sem uso e ou preservação.
Ao ouvir especialistas — biólogos, engenheiros, historiadores — reunidos no movimento ‘O rio do Rio’, capitaneado pela Oscip ‘planetapontocom’, a sensação é de completa ignorância. O sentimento é de usurpação — pelo poder público — da história da cidade, do rio que dá nome à Cidade Maravilhosa e de todas as consequências deste esquecimento. O rio foi colocado para debaixo do tapete da sociedade e das políticas públicas. Como se preocupar com a qualidade e a quantidade de água se não vemos o leito e não conhecemos a história?
Nos 450 anos da cidade, e no cenário de sustentabilidade e crise hídrica que assola o Estado do Rio, a recuperação do Rio Carioca deveria ser o símbolo de uma nova era, de uma administração pública que de fato se preocupa com a qualidade da cidade e de seu ecossistema. Que o movimento ‘O rio do Rio’ tome vulto e cobre do poder público o que lhe é devido. E que a mídia e a escola participem deste processo civilizatório.
Marcus Tavares é professor e jornalista especializado em Midiaeducação