Por felipe.martins

Rio - O último a morrer num grande prêmio da Fórmula-1 foi o francês Jules Bianchi, 25 anos, cujo carro bateu num guindaste que retirava um carro da pista no GP de Susuka. Há duas semanas, nove meses depois do acidente, sem ter acordado do coma. O penúltimo foi Ayrton Senna, em 1994, no GP de San Marino. Ao todo, 25 pilotos morreram em corridas oficiais da Fórmula-1. Mesmo assim acho pouco, quando a televisão mostra a violência do impacto, os carros dando cambalhotas no ar, se desintegrando contra os muros. Na maioria das vezes os pilotos saem andando sem ajuda, inacreditavelmente (pelo menos para mim) ilesos.

O que leva a outra questão: se existem equipamentos de segurança capazes de evitar uma mortandade nas corridas, por que não são instalados nos carros, digamos, normais? Evitaria milhares e milhares de mortes por ano. Com a tecnologia atual, os pilotos poderiam ser dispensados — Dilma não passeou num carro sem motorista? —, e técnicos controlariam os bólidos por controle remoto. Mas aí o público sumiria. A verdade é que o pessoal comparece na expectativa de presenciar alguma tragédia. O mesmo acontece com as touradas. O que atrai é a possibilidade de ver sangue das vísceras do toureiro. Senão os espanhóis iriam ver matar boi no abatedouro.

De repente me lembrei da Helenice. Quem foi ? Anotem, feministas que nunca ouviram falar nela: foi a primeira (e, que eu saiba, a última) mulher a competir em corridas de automóvel. Uma francesa que teve uma vida mais aventurosa que Mata Hari. Nascida Helene Delangle em 1900, na França, foi modelo de nu, atriz e dançarina do Casino de Paris. Bonita e audaciosa, foi amante do barão de Rothschild e de Jean Bugatti, filho do dono da Bugatti, Ettore.

Fez fortuna e também apaixonou-se por corridas de automóvel, já com o nome de Hellé-Nice (trocadilho em inglês: Helena Linda). Competiu profissionalmente na Europa e nos Estados Unidos e, em 1936, participou do circuito da Gávea — chamado de Trampolim do Diabo — e do Grande Prêmio da Cidade de São Paulo, vencido pelo legendário italiano Pintacuda. Na volta 56, quando estava disputando o terceiro lugar com o brasileiro Manuel de Tefé, perdeu o controle do seu Alfa Romeo. O acidente deixou cinco mortos e 35 feridos. Ela escapou com vida, mas sua carreira entrou em declínio, depois de ser acusada (injustamente) de nazista depois da guerra. Acabou num asilo para indigentes. Da sua passagem pelo Brasil devem restar algumas velhinhas de 79 anos chamadas Helenice.

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