Por bferreira

Rio - Ao pé da letra, caberia bem chamar de ‘Insônia’ a crônica de hoje. À meia-noite, deitado, rabisquei num papel que embrulhou a minha memória, bem fechado, por sinal, a recente visita que fiz à Prefeitura do Subúrbio — Palácio 450 Anos. Eduardo Paes me recebeu como eu fosse o Cartola ou Carlos Cachaça diante da duquesa de Kent, no Itamaraty.

Um quintal carioca acolhendo a alta nobreza de Bento Ribeiro, Oswaldo Cruz, Madureira. Neste dia, o samba ocupou a cozinha e a sala da casa, todos cantando. Eduardo também. O homem é Portela. Uma da manhã, desisti do tema. Não vou mexer com política.

Me veio o olhar sereno e inspirador do Arlindo Cruz me abraçando antes da minha apresentação no Samba In Rio. Arlindo anda devagar pra suportar tantos compromissos. Seu filho segue os passos da família e está no palco comandado por Paulão Sete Cordas. Uma estrutura de Rolling Stones a serviço do samba. Divido o camarim com dois fenômenos desse enredo: Reinaldo e Neguinho da Beija­Flor. Ouvi histórias de consagrar qualquer tese de mestrado contada entre risos, mas escrita com o suor da resistência e determinação, água mole em pedra dura.

Dúvidas me abrem os olhos. O relógio digital aceso no breu. Duas da matina. Percebo um som de surdo e caixa vazando de fora. Abro a janela: nem morador de rua, um bêbado, feliz, descendo a Cândido Mendes, um táxi manobrando pra não subir Santa Teresa, nada. Ninguém.

Meu Deus! É a bateria da Renascer de Jacarepaguá evoluindo nos meus neurônios! Chocalhos em sinapses, dopaminas e tamborins, assisti emocionado à apresentação, na escola, do samba feito em parceria com Teresa Cristina e Claudio Russo, pra Cosme e Damião, o enredo de 2016.

Modéstia à parte, o mesmo trio que ganhou o Estandarte de Ouro este ano. Festa linda organizada por uma agremiação de Grupo de Acesso, com dificuldades de toda ordem, verba reduzida, mas, quadra lotada, tem o coração de série especial.

Desisto. Vou levantar, beber algo não alcoólico, claro, e acordar, oficialmente. Quebrado feito o entorno do Campo de Santana, em cacarecos como a Rua da Constituição, recorro a São Nelson Rodrigues por um assunto, um santo que escrevia todos os dias, traduzindo futebol em poesia. Quem sabe me permitira futucar a lixeira da sua escrivaninha?

Enfim, como diria o Rei, “são tantos parágrafos”. A propósito: zanzando pela cidade, descobri dois maravilhosos nomes de ‘ruas’: Beco do Tesouro e Travessa das Belas Artes, ambas encostando na Avenida Passos, aliás, podendo ser um substantivo, é igualmente especial.

Pensar em logradouro rebatizado sem perceber a sensibilidade da história, assim, Rua da Ajuda, Rua Bela da Princesa, é caso pra outra noite em claro.

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