Por felipe.martins

Rio - Dói, mas é uma delícia! Estou falando da neve! Do limão os hermanos branquelos fizeram a limonada: o frio é um perrengue que corrói a alma, inquieta o corpo (e talvez esta sensação seja muito parecida com a pele queimada pelo sol do deserto, em bolhas que explodirão em carne viva), mas as opções de entretenimento são garantia de dias inesquecíveis e muito diferentes. Foi minha primeira vez em estação de sky, em alta temporada de neve. Primeiro que eu pensei em hotéis demarcados com muros e cercas.

Ledo engano. As pilhas de neve igualam tudo e o que você vê são prédios/casarões tentando aparecer, emergindo da massa branca em Cerro Catedral, Bariloche, Argentina. Não há limites, nem início ou fim, apenas o império branco, e Nossa Senhora de las Nieves que nos socorra porque o incômodo de que a situação nos é estranha, e não é normal, é total: gelo na cara, cara no gelo e cuidado pra não escorregar. Anda-se em passo de bêbado eternamente, areia movediça.

No vale entre as montanhas geladas, o homem criou seu parque de diversões, tipo é o que tem pra hoje, relaxe e goze. Atrás vieram as indústrias da moda, de material esportivo, a gastronomia, e a pegação dos jovens.

De dentro de um quentinho lugar, tipo bar, boate, farmácia, supermercado, você está a 1 metro da neve total: dói nos olhos de tanta brancura, as famílias brincam, pais puxam filhotes de 3 anos em carrinhos coloridos, e passam alas barulhentas de grupos com roupas térmicas berrantes e sapucaianas. Na maior naturalidade e alegria.

A neve lhes é íntima e eles se jogam na diversão como nos jogamos no sol, só que ao contrário: uma sunga nos basta, eles são cebolas em camadas de abrigo. Tem a toca, o óculos enorme, o cachecol, o casaco, a camisa térmica, 2 calças, meia e bota. Isto para os simplesinhos.

Alguns dias e fica a lição de que o homem é realmente um bicho criativo que se vira nos 30, capaz de calçar uma prancha e se jogar ladeira abaixo, deslizando em pistas de gelo. Aos acompanhantes que não se aventuram, complexos de diversão para ninguém botar defeito. Aos pinguços chics, restará a boa desculpa de que só um conhaque é capaz de fazer sobreviver, estão lá inúmeros cães São Bernardo com o barrilzinho da bebida no pescoço para salvar os perdidos e provar o que dizem os esponjas. E ainda tem as explosões, algumas no escuro da noite, quando o bloco de gelo se desprende do resto e cai provocando estardalhaço. Ou é isto, ou o abominável homem das neves está logo ali, urrando para você. Vai encarar?

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