Por felipe.martins

Rio - Fabulosa a sensação de ser ouvido. Daqui pulou para a Rádio Globo, quando Roberto Canázio fez um editorial emocionante sobre o direito ao sonho dos embarreirados. Depois, a coluna do professor Aydano, no jornal ‘O Globo’, também espichou o raciocínio sobre Vivi. Foi quando tocou meu telefone, para que o recém-pai Antonio Pedro Figueira de Melo, da Riotur (e querido amigo), me informasse que a anã poderia concorrer ao título de Rainha do Carnaval 2016, porque a regra do jogo vai ser mudada. Adoro!

Vários embates democráticos comprovam que se estamos vivos é para ouvir e avaliar e seguir serenamente firmes, sem querer exterminar o pensamento dissonante. Eles devem ter lá os motivos deles. Um argumentaram que os critérios servem para dar uma aura de glamour nas candidatas, que, lindas e desejadas, fariam do concurso um espelho da mulher carioca. Como a anã já foi casada três vezes, com três belos homens, altos, lindos, desejados, fiquei pensando que existem homens que acham a Vivi pequenininha linda e desejável. Aliás, ela tem um filho adolescente lindo. O que mostra que glamour e beleza podem ser associados a mulheres muito baixinhas. E a gordinha de óculos do Roberto Carlos? Meu amor, cada qual com o seu cada qual.

Leila Diniz grávida, quebrando o paradigma pudico ao usar biquininho na praia. O que ela acharia,revolucionária que era? E Luz del Fuego, que se enrolava na cobra, seminua? Uma cidade de mulheres à frente de seu tempo, que usaram o corpo para discursar. Poderia o corpo da anã discursar na Passarela? Ao permitir outro tipo de beleza, mais atarracada, estaríamos honrando as Certinhas do Lalau?

No Jockey Club, duas negras jovens e bonitas, moradoras de uma favela carioca, avançaram para mim com o argumento de que Vivi teria que acatar, se conformar com o critérios. Que não adiantava lutar contra, porque as autoridades não escutariam uma única que queria abrir precedente. Que ela não sabia qual era o seu lugar, que queria aparecer. Fiquei lá, tristinho, tristinho, olhando apiedado para as duas, que acreditam que pessoas têm lugar predeterminado na sociedade e temos que ser vacas de presépio.

A inclusão, entendida num sentido amplo, social, político, cultural e economicamente pela Prefeitura do Rio, sabe que esta discussão está em constate processo de elaboração, já que regras são homologadas, mas podem ser reajustadas na medida em que são implementadas. Viver é um constante exercício de ajuste.

A prefeitura está perguntando o que você espera da cidade do Rio nos próximos 50 anos; respondo rapidinho: que não viremos São Paulo, que é rica, poderosa, mas chatíssima. Quero viver no Rio com seus problemas da grande mistureba, porque não há nada no mundo que se compare com a galhofeira vanguarda carioca.

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