Por bianca.lobianco

Rio - A diversidade é a base da democracia. A rigor, democracia é o governo do povo pelo povo. Temos governo, temos povo, mas não dispomos de mecanismos que favoreçam a participação política. Nosso sistema democrático é viciado. Nós votamos, o poder econômico elege.

A suposta democracia política tromba de frente com a falta de democracia econômica. Onde impera a democracia capitalista vigora a ditadura dos donos do dinheiro.

A ganância não decorre apenas da má índole dos que se apropriam da parcela maior da riqueza. É estrutural. No capitalismo só têm direito a uma vida digna os sorteados pela loteria biológica, ao nascer em família rica.

Fora disso, todos dependem do que o sistema apregoa como seu valor máximo: competitividade. E não solidariedade. A riqueza é pouca, e multidões a ambicionam. Se desejam alcançá-la, tratem de escalar a íngreme montanha, fazendo com que os concorrentes rolem encosta abaixo. No pico cabem poucos. Em nenhum momento o sistema parte do princípio humanitário de que todos têm direito a uma vida digna e, portanto, caberia ao Estado administrar a distribuição da riqueza.

Os opressores conhecem os mecanismos do sistema. E, por terem poder, conseguem fazer aprovar leis que favorecem os seus negócios, como obter empréstimos fabulosos de bancos públicos a juros baixos ou ter suas dívidas perdoadas pelo governo. Tudo legal! Jamais se perguntam se é... justo!

Alguns ambiciosos agem à margem das leis do sistema. É o que ocorreu no Petrolão e na Operação Zelotes, que apuram a sonegação das grandes empresas. Os envolvidos não se sentem corruptos. Contabilizam tudo nas ‘regras do jogo’. Na convicção de que “sempre funcionou assim”. E se uma corporação não aceita o jogo, fica fora do festim. Assim, a ética, como o gato, sobe no telhado.

A falta de caráter leva os envolvidos na corrupção a vestir não apenas a camisa, mas também a pele de suas corporações, e a arriscar a própria no jogo escuso do mercado. Se um desses corruptos sentar em uma sala de visitas, é possível que receba toda deferência da família que o acolhe. Rico como é, talvez provoque, da parte dos anfitriões, uma ponta de inveja. Porém, se o visitante enfiar no bolso o cinzeiro de cristal e a família perceber, com certeza será acusado de ladrão e expulso da casa.

Enquanto nosso senso ético for tolerante com a falta de ética no social e intolerante apenas no pessoal, não haverá Lava Jato que resolva. Em nenhum momento o sistema parte do princípio humanitário de que todos têm direito a uma vida digna

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