Por bferreira

Rio - Não sei se tem a ver com a primavera, que chega em setembro. Tempo de renovação da natureza. Não sei se tem a ver com aquele filme da minha adolescência tão distante, ‘Quando setembro vier’. ‘Tempo de sonhos’. Não sei se tem a ver com as dificuldades crescentes do dia a dia. Tempos difíceis. Não sei se tem a ver com a necessidade urgente de ter esperança. Em qualquer coisa, em qualquer pessoa, em qualquer credo. Só sei que a semana começou com muita gente festejando a chegada de setembro. Inclusive eu.

Recebi pelas redes sociais, muitas mensagens otimistas, muitos vasos de flores, muitas palavras bonitas. Foi bom, não nego. Mas não adiantou muito. Nem deu tempo. Logo nas primeiras horas as notícias ruins foram ganhando espaço, as flores foram murchando e a palavra de ordem mudou de esperança para reinvenção. De que se trata esta nova ordem mundial? Reinventar-se? O dicionário vem nos amparar com sua definição:” reinventar é recriar, refazer, renovar algo que já existe. Aperfeiçoar algo que foi construído pelo outro”. E a poesia de Cecília Meireles fala mais alto, quando prega que “a vida só é possível reinventada”.

Mas por onde começar, de onde partir, em que direção seguir e onde chegar nem o dicionário diz, nem a poeta explica. Cabe a cada um de nós descobrir como se reinventar. Ou se recriar. E um sentimento misto de medo e insegurança domina geral. Não estou falando só das mudanças internas ou emocionais. Nem só das mudanças da vida profissional, das diferentes formas de trabalho ou do emprego, onde a palavra reinvenção tem passeado com mais desenvoltura.

Falo também e principalmente das mudanças da vida real, cotidianas, onde recriar hábitos se dá pela necessidade urgente de vencer o bandido de cada dia. Vejo como o medo passou a nortear a vida de todos, nas coisas mais banais. Em Copacabana o porteiro sai de seu posto para me dizer que não é bom falar ao celular naquela rua. Mas é a principal rua do bairro, movimentada, agitada. Mas ele vê tanto absurdo por ali, que não recomenda. Pelas ruas do Centro da cidade percebo nitidamente que, agora, as pessoas caminham em grupos com medo da violência, andam ligadas, olhando pra todos os lados, avisando, uns aos outros, dos caminhos e dos percalços, mandando mensagens avisando seus destinos, suas chegadas e partidas.

Na academia de ginástica, uma senhora conta para outra, assustada, o que aconteceu no prédio dela, com um golpe dado por pessoas que se passaram por operadores de TV a cabo. No Facebook , cresce o número de usuários e de páginas voltadas para assaltos na Zona Norte, na Zona Sul e Oeste. No táxi, o motorista do amarelinho elogia os aplicativos, sentindo menos medo, agora que acha que sabe um pouco mais sobre quem está transportando. O medo é geral. Inevitável. Como o tempo e o momento de se reinventar.

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