Por bferreira

Rio - Em meio às tantas crises da semana, uma notícia me chamou a atenção: a de que meninas de um tradicional colégio particular da Barra resolveram protestar. Motivo: a escola, segundo elas, que frequentam os anos finais do Ensino Fundamental, vem proibindo o uso de shorts e orientando a troca por calças ou casacos na cintura. As pernas de fora estariam ‘distraindo os meninos’. Elas não gostaram e, vestidas de shorts, espalharam pela escola segunda-feira cartazes com diversos dizeres, como “Não preciso me dar ao respeito porque ele é meu por direito”. Bravo!

Em tempos em que se estimula que crianças e jovens sejam autônomos, independentes, questionadores e coparticipantes ativos do dia a dia da sociedade, a reivindicação não é apenas esperada, mas legítima e parte de um processo de amadurecimento e exercício da cidadania. Além do que a trama favorece o embate. Afinal, ela envolve elementos contundentes e contemporâneos: os direitos dos cidadãos; a discriminação (que elas dizem sofrer), e o viés machista (que as estudantes também identificam no discurso de funcionários da instituição). Mais um bravo para as meninas.

Porém, com todo o respeito, fico me perguntando o que se aprende com isso. Do ponto de vista cidadão, não há dúvida. Uma lição primorosa. Do ponto de vista do gênero feminino, idem. Não há o que discutir. Os dizeres dos cartazes são um tapa na cara. Mas quem contrapõe para as meninas — além da escola, é claro — o ponto de vista do bom senso, do ambiente-escola? Da liturgia de um espaço? O ponto de vista dos limites? Não sou conservador, reacionário ou quadrado. É apenas uma reflexão, que deve fazer parte da discussão. E não apenas entre as meninas, os funcionários e a escola. Cadê os pais? E os meninos, o que pensam?

Vivemos tempos em que os direitos individuais prevalecem, como nunca, sobre os deveres dos cidadãos. A defesa dos direitos individuais, além de ser legítima, é uma premissa. Mas, ao meu ver, os direitos caminham com os deveres. Se não estão lado a lado, causam desequilíbrio na convivência pacífica e solidária. No entendimento de si e do outro. A discussão vai muito além do short. Que o short seja um começo para boa reflexão.

Marcus Tavares é professor e jornalista

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