Por bferreira

Rio - Toda guerra deixa como legado marcas para a vida inteira. Confrontos armados envolvem, é claro, seres humanos, e as sequelas são de ordem emocional, psicológica e física. Foi assim com os mais de 500 mil mutilados no Vietnã. Foi assim recentemente no Iraque. No Brasil, além dos bravos pracinhas, há outros que não lutaram contra nações, mas enfrentaram inimigo tão ou mais cruel que um adversário num campo de batalha. São os policiais que, na linha de frente do combate ao crime, foram mutilados numa guerra sem fim.

Como sabemos, o poderio do tráfico tomou proporções incalculáveis, com armamentos só utilizados até então pelas Forças Armadas. Diante da função de combater a violência urbana, são os policiais os alvos mais fáceis, e algumas centenas deles tiveram sua vida mudada para sempre por conta disso.

Lamentavelmente, os holofotes da sociedade acabam por não focar nesses casos. Histórias de famílias inteiras que convivem com a dificuldade e o descaso.

E essa realidade não é só dos policiais, bombeiros também passam pela mesma situação. Um abandono social de muitos heróis anônimos que diante da tragédia, além de não terem o seu mérito reconhecido, sofrem com as dificuldades que vão desde a falta de recursos para sustentar a família, comprar remédios e manter a casa.

Há um ano, o governo do estado sancionou a Lei 6.764, prevendo que o policial, civil ou militar, o bombeiro militar e o inspetor de segurança e administração penitenciária que for declarado impossibilitado total e permanentemente para qualquer atividade, não podendo prover os meios de sua subsistência, fará jus a auxílio-invalidez, a ser pago, mensalmente, no valor de R$ 3 mil. Isso significa muito para inúmeras famílias que gastam, em média, quase 50% desse valor com medicamentos.

Fica o desejo para que, mesmo em ano de crise para todos, essa seja uma das prioridades das autoridades do Rio, atendendo a centenas desses profissionais, muitos ainda aguardando para realizar a perícia, que necessitam desse recurso para melhorar a qualidade de suas vidas, abaladas pela guerra urbana que, proporcionalmente, mata tanto quanto ou até mais que muita guerra mundo afora.

Marcos Espínola é advogado criminalista

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