Por bferreira

Rio - Esta semana o Samba do Trabalhador se apresentou na festa pelos 19 anos do Boulevard Rio Shopping, em Vila Isabel. Passado de glória, o terreno nasceu estádio, primeiro do Andaray FC, até Pompeia pertencer ao América, rubra paixão carioca. Distraído feito um Dom Dom, confundi as bolas. Na mesma jogada, cruzei a coincidência: dia 28 de setembro, aniversário do bairro e desses salões iluminados. Pedi até um Fá maior pra cantar ‘Parabéns pra Você’, emocionado com a efeméride. Nada. Oficialmente, a data que marca a transformação da Imperial Quinta do Macaco em propriedade do Barão de Drumond conta de 3 de janeiro de setenta e dois, 1872.

Setembro, sobrenome da principal avenida, o Boulevard da calçada musical, do Petisco da Vila, do nosso presidente Jorge Bombeiro, o Ferraz do Renascença, é em homenagem a Princesa Isabel, assinando em bico de pena, no calendário da nossa história, a Lei do Ventre Livre. Se fosse um bicho do antigo zoológico, eu teria errado o grupo, a centena e o milhar.

No início da carreira levei meu violão pra alguns acordes do extinto Studio Asia. A luz negra do salão entregava os dentes postiços, os sutiãs de arame, qualquer falha humana, física ou social da plateia. Conheci o Perna, um agitador cultural antes mesmo de inventarem esse título lá pelas bandas da Zona Sul. Nas festas natalícias, criou a ceia ‘Quem tem põe. Quem não tem tira’, os negros forros e seus sinhozinhos confraternizando as primeiras rabanadas.

Sem cronogramas, Seu Agostinho ainda gerenciava o Bar Do Costa, repleto de temperos, jilós, carne assada e bolinho de vagem. Nei Lopes morava em frente, mas aos sábados batia ponto na Rua Jorge Rudge onde o samba corria solto no ‘Corre pra Sombra’, roda que revelou o amigo e músico Carlinhos 7 Cordas. Há uma orientação nos mandamentos de Noel: - Quem nasce lá na Vila nem se quer vacila, ao abraçar o samba.

Fiz um samba com Martinho da Vila chamado ‘Vila Isabel’. A letra fala da agremiação e seus fundadores, Paulo Brasão, Vandre e Zé Leite, o branco e azul da madrinha Portela. Na época da inspiração, desci a Gama Lobo, bem devagar, devagarinho, assoviando no timbre do apito da fábrica de tecidos, agudos em feitio de oração. Lembrei de Luiz Carlos da Vila no quilombo de Zumbi. Valeu, Luiz!

Hoje meu localizador cruza pela Barão de São Francisco todas as segundas-feiras nos últimos dez anos. É certo, falo do Andaraí, incensado por Cosme e Damião, da Rua Leopoldo, 27 de setembro. Mas assim como datas, as comunidades estão juntas e misturadas.

Compadres de aldeia, a batucada é a mesma. Maestros dessa cadência, Trambique, Zero, Marçalzinho, Esguleba dobrando a Praça 7, pandeiro e tamborim, em direção à tradição que mantém a história, espuma branca no azul da Princesa, no ventre livre de Vila Isabel.

E-mail: moaluz@ig.com.br

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