Por felipe.martins

Rio - Em sua visita a Cuba e EUA, o Papa Francisco lembrou que José e Maria não foram acolhidos em Belém. Ela, grávida, se viu obrigada a dar à luz Jesus em um pasto. Perseguidos por Herodes, migraram para o Egito.

O mundo inteiro se emocionou com a foto do menino sírio Aylan Kurdy, de 3 anos, estendido em uma praia da Turquia como se dormisse. Isso fez a opinião pública acordar: como tratamos os nossos semelhantes que, ameaçados pela violência e a miséria, buscam refúgio? Como gado rumo ao matadouro?
O Alto Comissariado da ONU para Refugiados calcula que, em 2014, 59,5 milhões de pessoas tiveram que abandonar seus lares e sua pátria.

De que foge toda essa gente? Da Al-Qaeda? Do Estado Islâmico? Aparentemente sim. De fato, fogem do entulho gerado pelo capitalismo. Seus países foram, durante décadas, saqueados por empresas petrolíferas, mineradoras, construtoras, todas ocidentais, que utilizaram a população como mão de obra barata e descartável, graças a governos corruptos e ditatoriais.

Bashar al-Assad, que sucedeu a seu pai, governa a Síria com mão de ferro desde 2000 e sempre mereceu o tapete vermelho estendido pelos presidentes que ocuparam a Casa Branca. Até que a Primavera Árabe chegou àquele país e as potências ocidentais decidiram armar os jovens rebeldes, como fizeram nas derrubadas dos governantes do Egito, da Líbia e da Tunísia. As armas foram parar nas mãos dos terroristas.

Na África, o colonialismo europeu e o neocolonialismo dos EUA deixaram um rastro de miséria e corrupção. Governantes cruéis eram recebidos nos palácios presidenciais do Ocidente por consumir grande quantidade de armas produzidas na Europa e nos EUA e facilitar a exploração de petróleo e diamantes por empresas multinacionais.

Repetiu-se na África e no Oriente Médio o que ocorreu no Afeganistão. Para expulsar dali os russos, na década de 1980, os Estados Unidos enviaram um agente da CIA, de origem muçulmana, chamado Osama bin Laden. O resto da história, todos conhecem.

O governo brasileiro já concedeu vistos humanitários a 7.752 refugiados sírios. E nosso país acolheu 28 mil haitianos. Em 2000, o Mercosul criou o Acordo de Residência, que permite aos imigrantes dois anos de permanência no Brasil, prazo renovável. Quem não entra no país como refugiado, como é o caso dos haitianos, recebe visto humanitário, que garante permanência por cinco anos.

Frei Betto é autor do romance policial ‘Hotel Brasil’ (Rocco)



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