Por bferreira

Rio - Quem me conhece e sabe que detesto viajar deve ter estranhado meu longo bordejo através dos vinhedos da Toscana. Fui mais como bagagem do que como turista, “uma mala sem alça”, como definiu minha mulher. Meus companheiros estradeiros tinham como destino Ancona, às margens do Adriático, onde participariam de um seminário internacional de saúde pública na universidade da cidade. Em Roma, haveria uma reunião preparatória. Para evitar que eu desse alguma desculpa para não viajar na última hora, Célia fez as reservas de passagens aéreas e hotéis seis meses antes. Com o euro a R$ 5 hoje, a viagem seria inviável.

Célia, Ana e Nelson acham Roma a cidade mais bonita do mundo. Para mim, a vantagem de visitar pela segunda vez lugares como Roma ou Paris é que você já viu a paisagem, aqueles museus todos, e aí pode se concentrar no que realmente interessa: comer e beber. Passando pelas ruínas, eu me lembrei da opinião de Nelson Cavaquinho sobre Ouro Preto: “Um monte de pedra velha. Por que não derrubam essas casas caindo aos pedaços e botam prédios novos no lugar?” Mas reconheço que os bares e restaurantes que conheci são incomparáveis.

Passei bom tempo no Bar Grecco, fundado em 1709. Mesmo só podendo beber cerveja Moretti sem álcool, deu para curtir o ambiente. Sentei-me numa mesa em frente a uma impressionante foto de Bufallo Bill, o matador de bisões das pradarias americanas, ao lado de dois índios sioux ou apaches. Fico imaginando a conversa do matador de bisões com outros frequentadores do bar no começo do século 18. “Leopardi, o Goethe vem hoje?” “Não, voltou para a Alemanha.”

Outro lugar que recomendo: o Elegance Bar, na chiquérrima Via Venetto, onde se ouve jazz de excelente qualidade. Nível Blue Note, os jazzistas italianos são craques. Mas ouvir Chet Baker a seco é para os (muito) fortes. Principalmente com Célia revirando sadicamente os olhos enquanto sorvia “um dry-martíni divino”. Duas quadras adiante tem o Harry’s Bar, onde resolvi fugir do regime e pedi um uísque em homenagem a Hemingway. Como castigo, tive que degustar as massas e carnes do estrelado ‘ristorante’ do Trastevere com água, sem sequer ter o direito de olhar para a fabulosa carta de vinhos. (Continua)

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