Por felipe.martins

Rio - O pessoal que tem ido às ruas contra a corrupção, que protesta contra a roubalheira, deveria bater panelas cada vez que Neymar entra em campo ou toca na bola. Isto porque, segundo a Procuradoria da Fazenda Nacional, ele sonegou R$ 63,5 milhões em impostos entre 2011 e 2013. Por conta disso, a Justiça bloqueou R$ 188 milhões de suas contas. Sonegar é o mesmo que desviar dinheiro público. Ao driblar o fisco, ao embolsar uma grana que não lhe pertence, o cidadão perde o direito de criticar governantes, de simular emoção ao som do hino nacional. É só ver o que ocorre em outros países — não pagar impostos é crime grave, quem o comete recebe reprovação social e cadeia.

Segundo a Tax Justice Network, organização sediada em Londres, a sonegação de impostos no Brasil chegou, em 2010, a US$ 280 bilhões, cerca de R$ 1,120 trilhão pelo câmbio de hoje. É mais que o dobro do orçamento da Previdência Social (R$ 436 bilhões) e supera em dez vezes o do Ministério da Saúde (R$ 109,2 bilhões). Com a reedição da CPMF, o governo quer arrecadar mais R$ 32 bilhões em 2016 - 2,8% do valor sonegado no ano de 2010.

O imposto que pagamos, descontado do nosso salário e embutido em produtos e serviços, seria menor se todos fizessem a sua parte. E não vale argumentar que não compensa pagar imposto que, lá na frente, será roubado por políticos. Quem justifica o não recolhimento de tributos não pode reclamar da merenda escolar, dos salários de professores, do policiamento deficiente. Ladrões têm que ser investigados, processados e presos, não podem servir de justificativa para outros crimes.

O empresário de Neymar, Wagner Ribeiro, ainda fez beicinho. Sugeriu que o pai do craque retirasse todo o dinheiro que a família tem no Brasil e o enviasse para paraísos fiscais, que fechasse um instituto beneficente mantido pelo atacante na cidade de Praia Grande. Pelo jeito, Ribeiro acha que Neymar, por ser rico, famoso e bom de bola, tem o direito de dar carteirada na Receita. Azar dos que, como a maioria dos brasileiros, são pobres, anônimos e pernas de pau. A lógica do sujeito é a mesma que, em 1994, permitiu que os campeões da Copa se achassem no direito de não pagar impostos pelos produtos comprados nos Estados Unidos.

Neymar nem se deu ao trabalho de falar sobre a acusação - ainda tratou de exibir uma Ferrari que pode ter sido comprada com dinheiro de todos nós. A menos que seja provada a inocência do craque, qualquer brasileiro tem o direito de dar umas voltas com o carrão. Arrá, urru, a Ferrari é nossa.

E-mail:fernando.molica@odia.com.br

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