Por bferreira

Rio - Glauber sempre namorou o ‘Pasquim’, e vice-versa. Amicíssimo do Tarso e do Maciel, editores do jornal, e de Caetano, contumaz colaborador. Quando vinha ao Rio, passava horas na redação. Sempre no seu estado habitual — em ebulição. Como nosso correspondente em transe, digo, trânsito, mandava ótimas matérias, como uma genial entrevista com Gabriel García Márquez. Lembro-me de um artigo que foi publicado quando a patota da redação estava na Vila Militar, vendo o sol nascer quadrado.

Vários jornalistas e intelectuais se comprometeram a fazer o jornal chegar às bancas enquanto estávamos em cana. Glauber foi um deles. Transcrevo trechos de um artigo publicado em dezembro de 1970: “Eu estava em Roma quando li o primeiro número d’‘O Pasquim’. Ele entrou na minha vida e realmente foi um barato chegar aqui e reencontrar a patota alegre, falando e mandando brasa, removendo detritos de uma cultura subdesenvolvida (...). Num país que tem o ‘Pasquim’ tudo pode acontecer.” Foi generoso comigo: “Jaguar inventou o Sig para felicidade da minha mulher.” E, como no samba, íamos vivendo de amor até que um dia me apresentou os originais de um livro que, segundo ele, seria o maior sucesso da Codecri, a editora do ‘Pasquim’. O título: ‘Golbery, gênio da raça’. Fui curto e grosso: “Um livro elogiando o inimigo? Nem que a vaca tussa!” No dia seguinte ligou para o ‘Pasquim’ dizendo que ia me dar um tiro. O livro não saiu (nem o tiro), e me pergunto que fim levou aquele texto.

Eis que Geneton Moraes Neto resolveu fazer um documentário sobre Glauber com um título insólito: ‘Cordilheiras no Mar — A fúria do fogo bárbaro’. O Geneton é um cara que admiro, um cineasta tinhoso. Fui à sessão do filme para convidados. Gostei. Com depoimentos de Cony, Maciel, Flávio Tavares, José Almino, Barretão, Janio de Freitas, Jabor, Nelson Pereira dos Santos, Orlando Senna, Caetano, Macalé, Fagner, Arraes, Reis Velloso e Julião, um time da pesada. E até eu, contando a história do livro. Aninha Magalhães, Pereio e Aderbal Filho declamam tiradas de Glauber. Jaborandy interpreta o gênio da raça baiana e seus exageros. Barretão diz que ele foi vítima de um assassinato cultural.

E Cacá Diegues acusa o ‘Pasquim’ de ter espalhado a notícia de que Glauber teria recebido 50 milhões de dólares (!) para filmar as passeatas estudantis para a polícia. Se fosse verdade, que filmaço ele teria feito com esse orçamento! Mas não é. Para quem quiser conferir, a Biblioteca Nacional tem a coleção completa do jornal.

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