Por felipe.martins

Rio - Representantes de 95 países estarão reunidos em Paris, do próximo 30 de novembro a 11 de dezembro, na COP-21 (21ª Conferência do Clima). O objetivo é chegar a um acordo para reduzir a emissão de gases de efeito estufa e o aquecimento global e limitar o aumento da temperatura da Terra em dois graus até 2100.

Caso não se estabeleçam regras rigorosas para o controle climático do nosso planeta, aumentarão ainda mais as secas, as inundações e o nível de água nos mares.Nossos povos originários, os indígenas, há milênios desenvolveram a cultura do Bem Viver, de sintonia entre a natureza e o ser humano. Na Terra Mãe reside a nossa origem e evolução, e dela provêm todos os recursos indispensáveis à vida. No entanto, nossa cultura utilitarista, centrada no lucro, comete o grave erro de ignorar a sabedoria indígena quanto ao equilíbrio e à harmonia ambientais.

As bases reais para um efetivo acordo climático em Paris estão contidas na primeira encíclica do Papa Francisco, ‘Louvado Sejas’ — sobre o cuidado da casa comum. Até hoje não se produziu nenhum documento tão contundente sobre a questão socioambiental. Não é um texto somente para católicos, é um alerta à humanidade.

Paris será um engodo, como tantas conferências anteriores, se não apontar, como faz Francisco, as causas estruturais do desequilíbrio ambiental, seus responsáveis e as soluções adequadas. O desafio é desenvolver uma cultura universal de preservação da vida, denunciando as empresas transnacionais que, em busca de lucros, põem em risco a saúde das florestas, das águas e dos alimentos, proliferando enfermidades e a morte dos seres vivos.

Os países ricos têm proposto soluções enganosas para o equilíbrio climático, que mais favorecem as multinacionais que os direitos da Terra. A mercantilização da vida faz com que os interesses do mercado se sobreponham aos direitos dos seres vivos. Isso hoje acontece no Brasil ao se pretender retirar do Executivo a responsabilidade de demarcação das terras indígenas para passar às mãos do Congresso Nacional, onde se multiplicam representantes do latifúndio, de madeireiras e mineradoras, que promovem devastação ambiental e mantêm o trabalho escravo. Foram esses responsáveis pelo ecocídio que obtiveram do STF a vergonhosa decisão de não se denunciarem a público os nomes das empresas flagradas no crime de exploração de mão de obra escrava. Como nossa mais alta corte pode acobertar tão hediondo crime?

Frei Betto é autor do romance policial ‘Hotel Brasil’ (Rocco)

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