Por bferreira
Rio - O atentado na França, o desastre em Mariana, a execução dos cinco jovens em Costa Barros e a recente invasão policial da Maré — que distribuiu balas em vez de confetes —, no Festival Internacional do Circo, não parecem ser obras de seres humanos. Mas todas foram.
Motivadas pelo dinheiro, pelo lucro, pelo poder, por crenças ou vingança, pela irresponsabilidade do Estado, essas criaturas promoveram atos que, contraditoriamente, são ações humanas e demonstram que nem sempre defendemos a vida e a dignidade. Os sentimentos, as ideias, os projetos, todos absolutamente humanos, seguirão, mas cabe ao Estado e a política, grande ou pequena, priorizar a vida e a dignidade dos seres humanos.
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Questões como racismo, machismo, sexismo, discriminações — alimentos cotidianos para a intolerância — são estacas fundamentais na nossa formação. A humanidade se divide sobre o quanto tais práticas colaboram ou bloqueiam a humanização. Neste caso, cabe ao Estado ação assertiva que contribua para a politização apontando os limites que tais ações trouxeram, as várias desigualdades que delas brotaram e como limitam a liberdade, a igualdade e a fraternidade.
Práticas de discriminação são sentimentos e estéticas fáceis de repetir sem pensar, sem desejar, sem querer. Afinal, somos humanos. Mas também os somos para admitir erros e superar atitudes equivocadas. Essa é sempre uma disputa da humanidade, e quem acha que não está sujeito a essas questões não se considera humano. Só considero humana a ação, a estética ou prática que defenda a vida e a dignidade.
Cabe ao Estado assumir a formação cultural pautada na generosidade, na convivência no direito à diferença. Ninguém pode matar, muito menos com o carimbo do Estado. Cabe ao Estado assumir a responsabilidade para que não ocorra e, se ocorrer, se desculpar, acolher as pessoas e seguir atento para que, progressivamente, não mais se repita.
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Cabe a cada um de nós superar a estética bélica e repressiva que busca soluções em atitudes penais. Vamos, nós, mudar e, ao mesmo tempo, mudar a política hegemônica do Estado: menos prisão e mais Educação, cultura, direitos para a formação de uma humanidade que coloque o ser humano em primeiro lugar.
Eduardo Alves é sociólogo e diretor do Observatório de Favelas