Por adriano.araujo, adriano.araujo
Rio - Estamos em ano eleitoral. Em outubro, elegeremos vereadores e prefeitos. Ainda que se torça o nariz para a política, convém lembrar que em tudo há política. A política serve para oprimir ou libertar. É como religião, que também serve para oprimir ou libertar. Foi um erro de certa tradição marxista achar que toda religião é alienação, até que, de repente, se descobriu que religião também é fator de libertação.
Fidel Castro presenteou o Papa Francisco, em setembro, quando este visitou Cuba, com o livro ‘Fidel e a religião’, no qual um chefe de Estado de um país comunista fala positivamente de religião. Aliás, neste ano a obra será reeditada aqui no Brasil pela Companhia das Letras.
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Entre vários exemplos de que tudo tem a ver com a política, um dos mais curiosos é este: dezembro lembra o número dez; novembro, nove; outubro, oito; e setembro, sete. E quantos meses tem o ano? Doze! Eis a política: o ano tinha dez meses. O imperador Júlio César chamou os astrônomos do reino e disse: “Inventem um mês em minha homenagem.” Eles enfiaram no calendário o mês de julho. Morto, Júlio César foi sucedido pelo imperador Augusto, que também chamou os astrônomos do reino e disse: “Se o Júlio tem um mês com seu nome, também mereço.” Então, criaram agosto. Porém, apresentaram ao imperador um problema cronológico. Existe uma alternância de dias em cada mês. Janeiro tem 31, depois 30, 31, 30, e julho e agosto são os únicos dois meses do ano com 31 dias seguidos. E os astrônomos tiraram um dia de fevereiro.
Hoje em dia, muitas pessoas, sobretudo jovens, têm nojo de política, porque acompanham noticiários que falam de corrupção, roubalheira, descaramento, nepotismo, fisiologismo etc. Sempre lembro a eles: quem tem nojo de política é governado por quem não tem. Quando você ou os seus amigos disserem “Não quero saber de política, não vou mais votar, vou anular o voto”, estarão fazendo o jogo dos maus políticos. Quem se omite dá um cheque em branco para a política que predomina no país.
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Afinal, nenhum desses senhores e senhoras que ocupam o Congresso Nacional, em Brasília, entrou pela janela. Todos entraram através do voto dos eleitores. Então, a questão também é analisarmos por que os eleitores votam mal. Por causa da política. Porque vivemos em um mundo onde a política é controlada por uma minoria. E o Brasil não é exceção. Mas isso é outra história e tem nome: reforma política.
Frei Betto é autor de ‘Calendário do Poder’ (Rocco)