Por thiago.antunes
Rio - Todo esse fluxo migratório que o Papa Francisco chama de Terceira Guerra Mundial é fruto do que Europa e EUA plantaram na Ásia, na África e no Oriente Médio. Foram séculos de colonialismo brutal. E quem garante que, hoje, os drones que atiram bombas no Afeganistão e na Síria como chuva abundante não ceifam a vida de inúmeros civis inocentes?
Por que razão os donos do Ocidente (a Europa Ocidental e os EUA) estenderam, durante décadas, tapete vermelho para as famílias (Bashar) al-Assad, da Síria; Hussein, do Iraque, e Kadafi, da Líbia, e, de repente, todas foram jogadas no lixo da história? A resposta está na evolução do comércio de petróleo.
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Política é muito importante. Mas, para ser político, é preciso ter vocação e, de preferência, decência também. Porém, em qualquer atividade fazemos política. Tomamos posição em um mundo desigual. Não existe neutralidade. Em tudo ajudamos a manter ou a transformar a realidade; dominar ou mudar; oprimir ou libertar. Essa foi a postura de Jesus.
Quando me perguntam por que me envolvo com política, por via pastoral ou dos movimentos sociais (pois nunca me filiei a partido político), respondo: porque sou discípulo de um prisioneiro político. Jesus não morreu doente na cama. Foi preso, torturado, julgado por dois poderes políticos, e condenado à pena de morte dos romanos, a cruz.
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Por que Jesus foi condenado? Pela mesma razão que você, leitor, seria se começar a dizer que o mundo não tem saída fora do socialismo. Haverá futuro para a humanidade sem a partilha dos bens da natureza e do trabalho humano? Para Jesus, todas as pessoas são templo vivo de Deus, dotadas de ontológica sacralidade! Eis a radical defesa dos direitos humanos.
O marxismo europeu, por exemplo, graças ao qual a modernidade avançou em termos de inclusão social, nunca defendeu os direitos indígenas, como fez o marxista peruano Mariátegui. Até se entende a razão, pois é uma filosofia, um método criado na Europa, onde quase não havia índios.
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Mas também nunca defendeu o protagonismo dos moradores de rua, chamados de lúmpen-proletariado. Ou seja, seriam os beneficiários de um futuro projeto socialista ou comunista, mas não protagonistas. A diferença é que, para Jesus, todos são chamados a serem protagonistas. Ou como conclamou o Papa Francisco aos jovens, no Rio, em 2013: “Sejam revolucionários, vão contra a corrente!”
Frei Betto é autor do romance policial ‘Hotel Brasil’ (Rocco)