Rio - O triste incidente na encenação de ‘Todos os musicais de Chico Buarque em 90 minutos’ em Belo Horizonte ilustra com clareza inquietante o clima de ódio e intolerância no Brasil. É pena que se testemunharam cenas lamentáveis de todas as partes, quando deveria haver esforço contra a animosidade.
Claudio Botelho, realizador e personagem central na evolução do teatro brasileiro, exerceu seu direito de expressão ao criticar o governo em um ‘caco’. Parte do público o fez ao vaiá-lo. A partir daí, contudo, perdeu-se toda razão: dos apupos vieram insultos de ambos os lados; a peça foi suspensa devido ao barulho da plateia; o ator, em espasmos, distribuiu até impropério racista no camarim. Ao saber do imbróglio, Chico Buarque, contrário ao impeachment de Dilma, suspendeu de forma sumária a cessão de direito de uso de sua obra.
Decisões legítimas, mas que acirram a bipolaridade belicosa e levantam ainda mais o muro que racha o país. Não é hora de afundar os brasileiros na cisão.