Por cadu.bruno

Rio - Dois acusados de realizar disparos na Vila Cruzeiro e Complexo do Alemão, minutos antes da largada da corrida Desafio da Paz, no último domingo, foram presos pela Polícia Civil na manhã desta terça-feira. A dupla foi capturada na Favela da Chatuba e encaminhada à 22ª DP (Penha).

Julio César do Nascimento, de 20 anos, é um dos acusados de ter disparado os tiros. Os policiais também prenderam Fabiana Muniz Toledo, de 31 anos. Ela é esposa de Bruno Eduardo da Silva Procópio, o Piná, que seria chefe do trafico na região. Na bolsa de Fabiana, segundo a polícia, havia uma identidade e uma carteira de habilitação em nome de Marcos Jesus de Souza, mas com a foto de Piná, além de R$1.500.
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Em sua casa foram detidos dois menores com mandado de busca e apreensão expedido por tráfico de drogas, e um maior. Eles estariam consumindo drogas. A polícia apreendeu um carro e uma moto que foram presentes de Piná para a mulher.
Os veículos passarão por perícia para que digitais sejam encontradas e auxiliem na investigação. O reforço no policiamento será mantido por tempo indeterminado no Alemão e na Penha.
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Julio César do Nascimento%2C de 20 anos%2C é um dos acusados de ter efetuado os disparosPaulo Alvadia / Agência O Dia

Cinco suspeitos têm mandados de prisão pelos tiros do último domingo. A polícia não vai identificar os suspeitos para não atrapalhar as investigações.

Estratégia em busca da paz

A polícia do Rio prepara uma estratégia para garantir a paz no Complexo do Alemão. O plano foi discutido nesta segunda em reunião entre diversos setores da Segurança.

Desta vez, ao contrário de tempos pré-UPP, a polícia conta com um forte aliado: os próprios moradores do complexo e bairros vizinhos, que pedem a permanência da PM e denunciam as ações dos bandidos.

A Secretaria de Segurança não entrou em detalhes sobre a estratégia, mas já providenciou reforço de 30% no policiamento desde domingo. O efetivo será aumentado em até dois meses. Nesta segunda, policiais revistavam carros e pedestres nas entradas do complexo.

Fabiana Muniz Toledo%2C de 31 anos%2C seria esposa de Bruno Eduardo da Silva Procópio%2C o Piná%2C chefe do trafico na regiãoPaulo Alvadia / Agência O Dia

Comerciantes denunciam que criminosos os obrigam a cobrar ‘ágio’ sobre o preço dos produtos e repassar a diferença à quadrilha, enfraquecida com a queda na venda de drogas.

Em Olaria, lojas de uma rua foram assaltadas no sábado, em represália porque os comerciantes não seguiram a ordem de fechar as portas.
Moradores, que temem se identificar, dizem que reconhecem alguns bandidos que fugiram em 2010 com a ocupação da polícia e agora tentam reimplantar o tráfico na região.
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“Reapareceram mais velhos. Foi um choque. Não querem papo com a população. Disseram que nós que os entregamos à polícia, e que vamos nos ferrar por apoiar a entrada das UPP”, disse um homem.
Uma funcionária da estação do teleférico contou que deixou de frequentar o comércio do Campo da Ordem, de onde foram feitos disparos no dia da corrida, porque nas últimas semanas o ponto passou a ser usado como esconderijo de bandidos.
Moradores e comerciantes reclamam que precisam aumentar produtosAlessandro Costa / Agência O Dia

“Há alguns estabelecimentos que passaram a funcionar apenas dois dias na semana por imposição do tráfico. Fico com pena dos donos, que são batalhadores e não sabem como lidar com a situação”, denunciou uma moradora.

Comerciantes denunciam arrastão em lojas sábado

No entorno do Alemão, comerciantes contaram com detalhes como foi proposta a ação do tráfico, que determinou o fechamento de lojas semana passada, e as consequências para quem não respeitou.

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“Um rapaz parou de moto e disse que era do Comando Vermelho. Falou que voltaram para o Alemão e que tinha uma parceria para fazer. Se a gente respeitasse, ninguém iria nos assaltar. Mas deveríamos fechar as portas quando eles mandassem. Fizemos isso na quinta-feira, mas o movimento caiu muito porque os clientes estão com medo”, contou um comerciante.
Em Olaria, alguns comerciantes não atenderam à determinação. O resultado foi um arrastão na Praça Bel Monte, na Rua Delfin Carlos. Bandidos chegaram a fechar a via. “Estão roubando carros também. Moradores de primeiro andar de prédios não ficam mais com janelas abertas. À noite, as pessoas evitam sair com medo de novos ataques”, disse uma moradora.
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Apavorados, outros comerciantes não quiseram comentar o assunto, mesmo com a presença ostensiva da polícia, que reforçou a segurança na região.
“Não vamos nos iludir que em dois anos e meio (tempo que a região está pacificada) vamos resolver esse problema. Esse é um trabalho permanente, é um processo em que a gente tem que ter perseverança. Só se ganha essa luta com coragem, perseverança e fé. E nós temos”, disse o governador Sérgio Cabral.
Há uma semana o comando da UPP do Alemão foi mudado. Assumiu o posto o major Marcio Varela, que ocupou o lugar deixado pelo capitão Joel Costa Filho.
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Policiais estão apreensivos
As ações do tráfico na região têm deixado até os policiais das UPPs apreensivos. “O problema é à noite, quando o efetivo é reduzido. Há três semanas, todas as noites há tiros. Às segundas e sextas-feiras são os dias com disparos mais intensos, após as 23h”, contou um PM.
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Os frequentes ataques no Alemão e na Penha já mataram dois policiais, outros foram feridos. Em 22 de julho do ano passado, a soldado Fabiana Aparecida de Souza, foi morta após ataque à UPP Nova Brasília.
No mesmo dia, PMs também foram atacados na Pedra do Sapo. Um mês depois, o soldado Vinícius Barbosa Ferreira foi baleado encurralado por traficantes.
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