Por thiago.antunes
Rio - Prática disseminada na capital paulista, a onda de arrastões a restaurantes parece estar chegando ao Rio: na noite de quinta-feira, às 21h50, dois homens — um deles armado — assaltaram o Bar do Mineiro, ponto tradicional de Santa Teresa, um dos bairros do Rio mais visitados por estrangeiros.
Frequentadores tiveram carteiras e celulares roubados. Cerca de 15 pessoas — muitos turistas — estavam no bar, que teve R$ 500 levados do caixa. A ação durou menos de dois minutos. O local, na Rua Paschoal Carlos Magno, fica a 70 metros de um posto da Polícia Militar.
Reduto da boemia%2C o Bar do Mineiro fica na área mais frequentada de Santa TeresaCarlos Moraes

O primeiro carro da PM, no entanto, só chegou após dez minutos. Os criminosos, filmados pelas câmeras de segurança, fugiram em um Corolla prata.

Antes disso, mandaram as vítimas para os fundos do restaurante, para que ninguém conseguisse anotar a placa do veículo. Segundo relatos, os dois homens demonstravam bastante nervosismo. Têm cerca de 30 anos e pele escura.

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O que estava com a arma era mais alto, algo em torno de 1,80m, e gritava palavras de ordem. Enquanto isso, o comparsa recolhia objetos e os colocava em uma bolsa térmica. “É a primeira vez que isso acontece em sete anos que trabalho aqui. Depois de tudo, só senti alívio por não ter acontecido nenhuma agressão”, desabafou o garçom Vicente Alves.
A noite deveria ser especial para um casal de publicitários, que levou uma amiga francesa para conhecer o bairro. Eles perderam dois iphones, uma carteira com R$ 80, cartões e identidades.

“Foi muito rápido. O homem armado gritava, falando para não olharmos para ele. Mandou entregarmos a aliança, mas conseguimos escondê-la”, diz o rapaz, que pediu para não ser identificado. “O bar estava cheio de estrangeiros. Santa Teresa é maravilhosa. Mas é esta imagem da falta de segurança que a cidade passa a ter lá fora”, disse um universitário, que teve a carteira roubada.

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Terceiro caso em apenas uma semana
Os arrastões estão se tornando frequentes no Rio. O Bar do Mineiro, em Santa Teresa, foi o terceiro caso registrado em apenas uma semana. No dia 31, o Famiglia Pelluzzo's, em Botafogo, e, na terça-feira, o Frontera, no Jardim Botânico, foram alvo da ação de criminosos.

Atraídos pela ideia de uma ação rápida e fácil em locais pouco patrulhados, bandidos rendem funcionários e iniciam o assalto, recolhendo dinheiro do caixa e objetos das vítimas. A descontração dos clientes e a falta de segurança do local são os elementos que os “ajudam” na prática.

Diógenes%2C o dono do Mineiro%2C um dos botecos mais famosos da cidade%2C ainda está perplexo com o assaltoCarlos Moraes / Agência O Dia

Ex-capitão do Bope e especialista em segurança pública, Paulo Storani explica que criminosos escolhem o lugar em que vão agir, pois sabem onde há mais oportunidades: “As pessoas são despertadas para esse tipo de modalidade, copiando um modelo. Os bandidos também agem com informações, sabem como funciona o monitoramento de um local, se há segurança interna. No restaurante, as pessoas estão descontraídas. O turista está focado na beleza e atrativos da cidade”, disse Storani.

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Segundo ele, o Rio de Janeiro sofre com a escassez de patrulhamento nas ruas. “Antes das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), já existia déficit de policiais para garantir a segurança da população. Depois da implantação, o efetivo foi para os morros, deixando ainda mais carentes outras áreas”, observa Storani.
Para ele, é preciso investir no monitoramento de áreas, através de câmeras, como ocorreu na Praia de Copacabana. “É um complemento ao serviço do policial na rua”, diz.
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Em São Paulo, panelaço vai cobrar mais segurança
Cansados de tanta violência e sem perspectivas de melhora, ‘chefs’ decidiram arregaçar as mangas e organizar um panelaço nas ruas de São Paulo como forma de protesto. Paulistanos enfrentam uma média de três arrastões por mês nos restaurantes da cidade.
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No ano passado, 34 estalecimentos foram alvo dos bandidos. Só este ano, essa modalidade de crime atingiu 22 restaurantes. O último assalto ocorreu quinta-feira à noite no Quiosque Chopp Brahma, na Vila Olímpia.
Garçons, funcionários e clientes vão bater panela e e seguir em passeata pelas ruas do Itaim Bibi, bairro nobre de São Paulo, às 10h.
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O movimento ganhou apoio de ‘chefs’ renomados nas redes sociais como Alex Atala, do restaurante D.O.M., e Carla Pernambuco, do Las Chicas. O protesto está sendo organizado pela chef Danielle Dahoui, do restaurante Ruella, localizada no Itaim Bibi.
A casa foi assaltada há nove dias. O Sindicato dos Bares e Restaurantes de São Paulo vai cobrar mais segurança e iluminação pública para tentar reduzir a onda de crimes. “Vamos nos vestir de branco e pedir paz”, convoca Danielle.
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“Orgulho pela cidade se transforma em vergonha” - Rodrigo Cabral, jornalista do DIA
“Nada como sair do trabalho, subir a ladeira de Santa Teresa, e, de quebra, saborear delícias gastronômicas da região. Vou ao tradicional Bar do Mineiro, que serve uma feijoada dos deuses. Mas bastou um instante para a fantasia desmoronar. Dois homens anunciam o arrastão. Um deles carrega a arma. Outro recolhe carteiras, telefones e dinheiro do caixa. As vozes animadas silenciam-se. Mandam todos para os fundos do bar, e vão embora. Alívio por nada pior ter acontecido e revolta pela impotência diante do absurdo.Difícil encarar os turistas. Para minha surpresa, nenhum demonstra medo. O que é pior. Em dois minutos, meu orgulho se transforma em vergonha. Essa é minha cidade? Se até estrangeiros encaram, com normalidade, uma situação como essa, algo anda errado... A perda dos pertences não é o que realmente importa. Importa, e muito, algo que nos roubam todos os dias: paz. Receio que subir Santa Teresa nunca volte a ser um passeio tão saboroso para mim".
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?Colaborou Maria Luisa Barros