Por raphael.perucci

Rio - Ela mudou a tática e está dando certo. Na esteira da falta de peças para carros no mercado e atuando em locais mais escondidos, a máfia dos ferros-velhos vê seus negócios crescerem de vento em popa. Mas a farra pode estar com os dias contados. A Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA) vai deflagrar nos próximos dias uma megaoperação nos ferros-velhos de São Gonçalo, Itaboraí e Rio Bonito.

A operação contará com 40 agentes, com o suporte da Federação das Seguradores, que fornecerá operários e caminhões para transportar o material apreendido. A megaoperação é para inibir o roubo de automóveis, cujas peças são vendidas em ferros-velhos e revendidas no mercado negro. Será similar à empreendida ano passado, quando 50 ferros-velhos da Baixada foram fechados na Rodovia Presidente Dutra e ao longo da Avenida Brasil, onde foi apreendida grande quantidade de peças de procedência duvidosa.

Máfias que vendem peças roubadas agem no RioArte%3A O Dia



“A DRFA já declarou guerra aos ferros-velhos ilegais”, anunciou Felipe Ettore, titular da especializada, que já recebeu relatório dos agentes com os locais de comercialização de material suspeito. Na semana passada, O DIA encontrou muitos ferros-velhos fechados na Baixada e Zona Norte, principalmente na Dutra e na Av. Brasil, onde esse tipo de comércio era farto. Lá era comum a venda de peças duvidosas e até de motores de carros nacionais e importados. Mas uma incursão mais acurada mostrou que, na Dutra, o comércio ilegal funciona nas ruas paralelas, e onde podem ser comprados desde peças e motores por encomenda até carros roubados para serem ‘esquentados’ (terem a documentação modificada de forma criminosa).

As quadrilhas levam carros roubados até os ferros-velhos. Alguns são ‘esquentados’ e os demais vão para o desmanche. Os motores e as peças são vendidos ali mesmo, redistribuídos ao mercado negro, ou ainda vão abastecer oficinas de reparos. Os responsáveis pela ‘migração’ dos ferros-velhos para locais menos visíveis já estão na mira da polícia. Os prováveis indiciados pelo comércio ilegal por crime de receptação (artigo 180 do Código Penal) podem pegar penas que chegam a quatro anos de prisão.

* O PRÓPRIO MERCADO ALIMENTA OS VENDEDORES IRREGULARES
Ferros-velhos ilegais acabam sendo o caminho ou atalho para resolver os problemas existentes no mercado automotivo

Produção em alta, vendas idem e muitos carros na rua. Só que o consumidor não tem sempre clareza de que o carro é um pacote, que envolve serviços e produtos. Com a explosão da produção começaram a faltar peças e os prazos de espera dilataram. É fácil ver por quê. O custo do estoque é alto e nem sempre quem vende o carro quer absorver este custo. Idem para os importadores, que precisam, às vezes, de quatro meses para trazer uma peça da Coreia.

Peças prosaicas como retentores de caixa de marcha e relês de ar condicionado não existem no mercado. Isto vale, às vezes, para alguns modelos de grandes marcas. Pelo e-mail de Automania recebemos um volume crescente de queixas sobre o assunto. Entre eles, as locadoras de veículos, que têm seus instrumentos de faturamento parados por falta de peças.

O rendimento de um carro de locadora, com vida útil de 12 a 18 meses, caiu entre 6% e 10%, avalia Raimundo de Castro Teixeira, diretor da Yes Locadora, uma das quatro maiores redes do país. Segundo o executivo, isto está levando locadoras a trocar de marca de veículos, por outras que têm melhores serviços. Com a falta de partes, como latarias, a elevação da procura estimula o preço e o cliente se vê obrigado a pagar o que pedem. Isto se reflete no preço do seguro do carro.

Resultado: mais custo, maior prêmio do seguro, já que os reparos estão mais caros e a cessão de carros reserva é pressionada. Seguradoras estão estimulando o uso de peças ‘recicladas’ nos reparos. A Associação Proteste avisa que o número de recalls tem subido pelo mesmo motivo, a produção em alta e o controle de qualidade em baixa, o que provoca mais panes e maior demanda de peças.

Há peças paralelas, feitas por pequenas indústrias, mas que estão na mira das grandes montadoras por conta do direito de propriedade industrial. Tal assunto é objeto de uma ação judicial das montadoras contra a Associação Nacional dos Fabricantes de Peças que argumentam a necessidade da peça ‘genérica’. Muitas são de modelos fora de linha e que não despertam interesse das montadoras. O caminho, ou atalho, para o turbilhão no mercado acaba sendo a peça usada, do ferro-velho ilegal.

* MARCELLUS LEITÃO

Você pode gostar