Por thiago.antunes

Rio - O vandalismo praticado por um grupo de manifestantes após a passeata de segunda-feira fez com que a Polícia Militar reavaliasse os planos para a segurança do jogo entre Espanha e Taiti nesta quinta, no Maracanã.

Em reunião nesta terça-feira à tarde, a cúpula da corporação decidiu que vai reforçar a partida da Copa das Confederações com 1.800 PMs, 600 a mais do que no evento de domingo, quando jovens foram reprimidos com violência.

Policiais atiram para o alto após jovens tentarem entrar na AlerjFernando Souza / Agência O Dia

O Ministério da Justiça informou nesta terça que Rio, Ceará, Bahia, Minas Gerais e Distrito Federal estão recebendo hoje efetivo da Força Nacional.

O reforço da PM vai ser empregado tanto na segurança do estádio quanto no entorno, para onde manifestantes pretendem seguir em nova passeata, segundo informações em redes sociais.

Além da unidade da Tijuca, a tropa será formada pelo Grupamento de Policiamento em Estádios (GEPE) e os batalhões de Choque e de Ações com Cães.

Helicópteros equipados com câmeras transmitirão imagens em tempo real para o Quartel-General da corporação. Carros blindados serão usados para transportar a tropa e, se necessário, no boqueio de vias.

Nesta terça, o coordenador de Comunicação da PM, coronel Frederico Caldas, falou sobre os confrontos entre policiais e manifestantes na segunda. Ele disse que o efetivo empregado — 150 policiais do 5º BPM (Centro) — foi o mesmo usado na última passeata na Av. Rio Branco, quinta-feira passada.

“Se pegar a história do Rio nos últimos anos, não há o histórico de agressividade que tivemos ontem. Dimensionamos o efetivo a partir do histórico que tínhamos. Não imaginamos que as pessoas teriam o comportamento bárbaro, criminoso, que teve essa minoria”, disse.

Sobre a demora para o Batalhão de Choque entrar em ação — três horas depois do início da violência, que incluiu a invasão da Alerj e o quase linchamento de um PM —, Caldas justificou que a entrada foi calculada.

“Esgotamos as possibilidades de negociação pelo 5º BPM antes. Se hoje lamentamos perdas materiais, dependendo da decisão, poderíamos lamentar vidas”, concluiu.

Quatro manifestantes ainda hospitalizados

Quatro manifestantes feridos no protesto segunda-feira ainda estão hospitalizados. Confuso e com lapsos de memória, Bruno Alves dos Santos, baleado, diz se lembrar de grupo de jovens avançar em direção à Alerj. Ele não sabe de quem partiu o disparo.

Agente dispara na direção de manifestantes em fuga nas ruas do Centro. Polícia vai apurar disparosUanderson Fernandes / Agência O Dia

“Senti forte impacto no ombro e achei que fosse pedra portuguesa. Meus amigos me alertaram que escorria muito sangue. Tive que andar dois quilômetros procurando socorro. Só soube que tinha sido baleado quando cheguei ao Hospital do Andaraí”, relatou. Segundo a assessoria, Bruno passou por exames e, apesar de ter tido o tórax atravessado pelo projétil, seu estado é estável.

Quadro similar vive José Mauro Valente de Sá, que foi operado no Hospital Souza Aguiar depois de levar um tiro. Apesar de não confirmar se a bala era de borracha, a assessoria da unidade informa que ele passa bem.

Matheus Correa levou três tiros de borrachaUanderson Fernandes / Agência O Dia

Gleison Silva de Oliveira, que escorregou da escadaria da Alerj e quebrou a perna, e Leandro Zalumbinho da Mata, atingido por bala de borracha na coxa direita, também estão no Souza Aguiar. Matheus Correa foi ferido três vezes.

O clima nesta terça era de tensão no 5º BPM, depois que 20 policiais ficaram feridos. No Choque, alguns agentes lamentaram o fato de não terem ido mais cedo ajudar os colegas.

Detidos alegam injustiça

A Polícia Civil informou que 14 pessoas foram detidas na manifestação de segunda, 13 presas, e dois menores, apreendidos. Todos foram liberados após pagamento de fiança, com exceção de três pessoas, conduzidos para o presídio de Bangu indiciados por furto qualificado, crime inafiançável.

A maioria alega que não sabe o motivo da detenção e que estava apenas fotografando ou filmando. A dona de casa Carmem Astrid, 41, foi autuada por formação de quadrilha e teve que pagar R$700 de fiança. Segundo ela, um policial pediu sua identificação de imprensa ao vê-la fotografando.

Como não tinha, foi conduzida a um ônibus da PM. “Me acusaram de ter quadrilha com gente que nem conheço. Na delegacia apareceram com máscaras e pedras dizendo que eram minhas”, contou a mãe de uma criança de nove anos.

Vídeos de disparos serão avaliados

Vídeos feitos por agentes da Coordenadoria de Inteligência da PM e pelos helicópteros que sobrevoaram a manifestação de segunda vão servir para a cúpula da PM avaliar a ação de policiais. Alguns foram filmados fazendo disparos com fuzis e pistolas.

O coronel Frederico Caldas informou que, em verificação inicial, os tiros foram dados para o alto, apesar de a orientação ser a de não usar armamento letal. As imagens também ajudarão a analisar possíveis excessos nas prisões.

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